Análise
do sistema de gravação de aúdio/sequenciamento/notação musical
Audiowerk8 Home Studio Kit produzido pela Emagic
Revista Música & Tecnologia, agosto de 1998.
Introdução
Existem no mercado
diversos sistemas de gravação de áudio em hard disk com
sequenciador e processador de partituras, a partir do razoável custo
de R$1.500,00 (incluindo a placa). Geralmente são produtos vendidos
separadamente, o que dificulta a escolha dos diversos elementos e
aumenta o risco de instabilidade devido às incompatibilidades. Já o
Audiowerk8 Home Studio Kit, possui diversas ferramentas conjugadas, o
que minimiza os prováveis problemas comumente encontrados nessa área.
A proposta dessa
análise é de fornecer dados a respeito de um sistema de gravação
digital de alta qualidade e de fácil operação a um custo bem razoável.
Optar por um kit contendo placa digitalizadora e software de gravação/sequenciamento/notação
é sempre mais aconselhável. É como adquirir um computador de marca
– onde tudo já vem
“afinado”, pronto para usar, ao invés de um montado com
componentes variados. Ao mesmo tempo, não espere que tudo rode
seguramente logo de primeira. Estamos falando de um sistema que tenta
simplificar o que já nasceu complexo.
O kit é
dependente do potencial da máquina (computador), do sistema
operacional e da placa de MIDI instalada. Quando se instala um
programa de texto, por exemplo, é 100% provável que após 5 minutos
o usuário esteja apto a redigir seus contratos, correspondências,
etc. No caso dos sistemas para aplicação em música, a situação é
bem diferente, já que diversos fatores estão envolvidos: digitalização
e reprodução de som, sequenciamento e reprodução de mensagens
MIDI, sincronização interna desses dois elementos, sincronização
com áudio e vídeo externos, mixagem interna da parte de MIDI e de áudio,
endereçamento dos canais de áudio para um mixer externo via patch
bay, configuração do equipamento MIDI via MIDI Patcher, aplicação
de efeitos internos, instalação e configuração de impressora para
geração de partituras, além da instalação da parte de áudio
convencional (mixer, efeitos externos, máquina de mixagem, etc.).
Enfim, o termo “gravação” envolve uma parafernália ilimitada e,
provavelmente, em algum estágio haverá problemas a solucionar, até
que o sistema se estabilize.
Como o brasileiro
já está acostumado a sofrer, as dificuldades e frustrações na
instalação passam quase desapercebidas. Geralmente, por razões econômicas,
o músico, o engenheiro de som ou o produtor fazem tudo por conta própria
ao invés de contratar técnicos especializados – aliás, muito
raros por essas bandas. É uma situação surreal: após horas de
trabalho, a instalação está instável, maceteada e capenga; mas
quando o computador consegue esganiçar oito compassos de áudio
gravado sincronizado com um simples instrumento MIDI, já é razão
para convidar os amigos e comemorar o sucesso!
Foi pensando no músico
que deseja ter um sistema de gravação digital de porte médio
(expandível), mas que não tem know how para caminhar com as próprias
pernas ou dinheiro para contratar pessoal técnico, que resolvi fazer
essa análise. Como regra geral, sequenciamento significa entrada de
dados musicais via MIDI; já gravação, refere-se ao registro de áudio
em hard disk.
O Kit Audiowerk8
Sistema integrado
de gravação digital para hard disk, com sequenciador e notação
musical. Já vem com a placa de som PCI com entradas e saídas RCA –
sem conector de MIDI. O software que sequencia até 1000 canais de
MIDI (com a estupenda resolução de 960 ppq), grava som, e gera
partituras, é o Logic Audio Discovery ver. 3.0. A placa
digitalizadora com excelentes conversores A/D D/A é a Audiowerk8, que
possui duas entradas analógicas, entrada e saída digital (I/O
S/P-DIF) e oito saídas analógicas endereçáveis a partir do Audio
Mixer interno. Utilizando a mixagem interna para dois canais, o kit
pode processar até 16 canais de áudio com diversos efeitos simultâneos.
A capacidade de processamento desses elementos fica limitada à
velocidade da CPU (processador do computador), à quantidade de memória
e ao espaço de hard disk.
O kit inclui
ainda, o editor de material sonoro Cool Edit LE – uma versão
reduzida do Cool Edit Pro da Syntrillium Software Corp.; o software
VMR, que possui uma interface antiga sem muitos recursos, para gravar
simplesmente áudio; o Sound Diver – que é um MIDI
Editor/Librarian; e o Hearmaster, programa de treinamento de percepção
musical. Para Macintosh, é oferecido ainda, a ferramenta ZAP, que
comprime os arquivos de áudio em até 60% do tamanho.
Instalação
O kit pode ser
instalado em PC com Windows95 ou em Power Mac com MacOS. Esse teste
foi realizado em um Pentium MMX200 com 64MB de RAM, Windows95 ver 4.0
e Explorer 4.0. Antes de instalar o kit, o computador foi configurado
e testado durante 15 dias, sem apresentar nenhum tipo de problema.
O sistema roda a
partir de Pentiuns de 100MHz com 16MB e o hard disk pode ser EIDE de
no mínimo 1.2 Giga, sendo muito recomendável HDs externos SCSI. A
taxa de transferência mínima deve ser abaixo de 12 ms. De qualquer
forma, o HD deve ser dedicado somente para gravação de áudio e
defragmentado antes de cada série de gravações, de forma a
proporcinar melhor rendimento.
Primeiramente,
instala-se a placa Audiowerk8 em um dos slots PCI disponíveis. Após
fechar o computador, conecta-se os cabos de áudio no patch bay ou no
mixer. Para efeito de testes, pode-se utilizar somente dois canais de
entrada e de saída, conectando a saída de áudio direita e esqueda
de um teclado às entradas 1 e 2 da placa. Os conectores da placa são
RCA fêmea; logo, é necessário ter vários cabos com plug de
guitarra de um lado e RCA macho do outro. Se desejar trabalhar em um
ambiente mais seguro e profissional, adquira separadamente a unidade
de rack Breakout8 que pode ser conectada à placa e possui jacks do
tipo banana ao invés de RCA.
O kit não oferece
entradas e saídas de MIDI, mas processa as informações internamente
utilizando os recursos do próprio sistema operacional. Isso quer
dizer que, para trabalhar com MIDI sincronizado ao áudio, deve-se
obter separadamente, uma placa de MIDI confiável, de preferência que
gere sinal de sync SMPTE para se acoplar o sistema de música
informatizada com gravadores multicanais externos. Utilizo a placa de
MIDI MQX32M há quase dez anos e, surpreendentemente, ainda é uma das
placas mais procuradas, pela eficiência e segurança que oferece.
Possui 2 ins e 2 outs, saída de metrônomo e gera e lê SMPTE em
todos os formatos. No mundo do PC, a nível profissional, essa placa
tornou-se o standard de MIDI. Se você já tem uma placa MIDI
instalada no computador, pode perfeitamente usá-la, tornando
desnecessária mais uma despesa.
Com a placa de áudio
Audiowerk8 e a de MIDI instaladas, o próximo passo é instalar o
software Logic Audio Discovery 3.0 e o Cool Edit LE, fornecidos com o
kit, em CDROM. Hora da decisão: seguir o manual impresso ou utilizar
os recursos mais modernos de instalação presentes em qualquer CDROM?
Se você já está acostumado a instalar a partir de ícones, preferirá
o CDROM; se for mais meticuloso e deseja aprender enquanto instala,
apelará para a instalação via manual. Em ambos os casos, a
probabilidade de sucesso não é de 100%, pois o manual impresso não
está “afinado” com os textos do CDROM. É claro que a instalação
funcionará, mas lá para a frente, os problemas começarão a
aparecer. Tanto o manual de apenas 17 páginas, como a disposição de
textos no CDROM, estão muito aquém do mínimo necessário para uma
instalação segura. Resultado: após a instalação por intermédio
do manual, descobre-se que as instruções para uma instalação mais
estável estão no CDROM. Na versão testada (para PC), nada de ícones,
instruções narradas, música de abertura, etc. É um CDROM
“duro”, feito de encomenda para “vasculhadores”. Se não for o
seu caso, trate de seguir atentamente essa análise.
O editor de som
Cool Edit pode ser acionado a partir do Audio Logic Discovery de forma
que se possa trabalhar no material gravado de forma integrada. Só que
o Cool Edit tem que ser instalado primeiro, senão o Logic Audio
Discovery não o aciona. O manual não menciona este fato. Mais
adiante, um arquivo de texto dá o alerta e sugere que se refaça a
instalação na ordem correta. Diante dessa situação, parti para
inverstigar em que local do Win.Ini, ficara registrado que o Cool Edit
seria o editor do Logic Audio Discovery. Logo descobri e fiz o endereçamento
adequado. Entusiasmado com o Cool Edit, passei a testá-lo
isoladamente, como um programa sampleador de fontes externas (CD,
teclados, voz, etc.). Mais uma surra: ocorre que a versão LE do Cool
Edit, que faz parte do kit, não possibilita monitorar áudio enquanto
se grava com a placa AW8 (pelo menos em meu sistema, que como já
disse, foi arduamente testado). Já em outras placas como a Tahiti
(Turtle Beach) ou a RAP10 (Roland) monitora instantaneamente.
No final do
processo de instalação, é pedido para inserir o disquete com a
chave de proteção. Esta é a forma utilizada para inibir a pirataria
do programa. O disquete possibilita duas instalações, como segurança.
No caso do usuário trocar de hard disk, a primeira instalação não
é “queimada”. Para tal, é necessárico proceder com o ritual de
retornar a chave para o disquete.
Após instalar os
programas, um teste básico: vamos ouvir um simples arquivo de som WAV
em estéreo, 44.1 KHz a 16 bits, sendo executado através da
Audiowerk8 para comparar a qualidade em relação à outras placas
instaladas. Deve proporcionar muito mais fidelidade, já que o
conversor D/A foi projetado seguindo parâmetros profissionais.
Surpresa! Não toca nada. Aí pensa-se: bem, é uma placa e um
software que trabalham integralmente no ambiente de 32 bits; é claro
que não tocaria arquivos gerados para o de 16bits. O driver que veio
com a placa não atua nos arquivos de som do sistema. Só que o manual
não diz nada sobre isso, e nem avisa para recorrer aos arquivos de
texto do CDROM. Assim, é hora de partir para a leitura meticulosa do
manual incluído no CDROM em arquivo PDF. Surprendentemente, o
programa não inclui um help de consultas rápidas, obrigando o usuário
a investigar no manual em PDF, já que o manual gráfico é muito precário.
Mais uma desafinada: o manual em PDF constantemente se refere à
teclas que não existem no PC.
O novo driver que
executa arquivos WAV para 16 bits me foi fornecido pela Quanta
(representante do kit no Brasil), mas encontra-se disponível, também,
no site da Emagic. Após instalado, passa-se a ouvir os arquivos WAV
do sistema. Mais tarde peguei na Internet um driver ainda mais novo
que permite ligar ou desligar a monitoração do áudio gravado pela
placa AW8.
Passo seguinte:
testar meticulosamente o editor Cool Edit LE - ótimo aplicativo de
32bits para samplear de CD ou editar material gravado pelo Logic Audio
Discovery. O Cool Edit utiliza vários processadores de áudio,
denominados de Transforms (echo, flanger, reverber, dinamic
processing, etc.). Alguns Transforms podem ser adicionados a qualquer
tempo, como é o caso do excelente processador de reverber fornecido
como um plug-in via Active Movie/Direct-X (tecnologia da Microsoft que
permite que programadores externos criem novos recursos para serem
acoplados ao programa).
Como eu já tinha
o Active Movie instalado em meu sistema quando da instalação do
Explorer 4.0, preferi dispensar a instalação do que vem no CDROM, e
passei a pesquisar uma forma de instalar somente o processador de
efeitos JetSFX Filter. Um tanto obscuro, pois no CDROM, o único ítem
relativo ao assunto é o arquivo Amovie.exe, presente no mesmo diretório
do Cool Edit. Como não há nenhum esclarecimento sobre o assunto no
manual gráfico ou no CDROM, fui buscar informações no site da
Cyntrillium (produtora do Cool Edit), onde o assunto é abordado
superficialmente. Reparei também, que o suporte técnico não dá
muita atenção aos usuários da versão Cool Edit LE: “- caro
Luciano, por favor reporte suas questões à Emagic pois essa versão
agora é departamento deles, já que foi feita só para inclusão no
Kit Audiowerk8”. Como bom brasileiro, conheço de longe o “jogo de
empurra” quando a coisa está pegando. Afinal, estou pedindo à
TELERJ a mudança da minha maldita linha telefônica há mais de um
ano, o que me graduou no assunto.
Na falta de
resposta, instalei o ActiveMovie que veio no CDROM. A partir daí, os
efeitos de reverb do JetSFX Filter ficaram disponíveis como mais um
Transform no Cool Edit, mas o Active Movie parou de executar os
arquivos WAV e MIDI a partir do Explorer 4.0. Erro no Registry!
No site da
Microsoft, peguei e instalei o Microsoft DirectX Media 5.2b SDK que
possui novo run time do DirectX. Assim, O Active Movie voltou a
funcionar perfeitamente.
O Logic Audio Discovery 3.0
É muito
interessante observar o avanço dos softwares de sequenciamento. Do
MIDI4 da Passaport (1985) até o atual Logic Audio Discovery, o salto
foi considerável, em termos de recursos. A própria informática
evoluiu muito, possibilitando o uso de ferramentas nunca antes
imaginado. O Logic Audio Discovery 3.0 – programa produzido na
Alemaha pela Emagic - tem quase as mesmas funções que seu irmão
mais velho Logic Audio 3.0, a um preço mais convidadativo e foi
desenvolvido para sequenciar com a placa Audiowerk8, o que elimina
problemas de imcompatibilidade. Pode ser usado também com a placa
Digidesign, instalando-se os devidos drivers. A seguir, são descritas
algumas características importantes do programa.
Seu display é
complexo mas extremamente amigável e funcional, sendo melhor
visualizado na resolução de 800 x 600. A grande vantagem desse
programa é a possibilidade de se trabalhar no ambiente que se deseja,
podendo suportar diversas configurações diferentes. Se, por exemplo,
um trabalho exige somente gravação de MIDI, escolhe-se uma configuração
que mostre somente os tracks de MIDI. As posições das janelas são
flutuantes e podem ser salvas junto com os arquivos.
A janela de
Arrange é a área principal de trabalho, onde são mostradas as
pistas de gravação de áudio e de MIDI. É possível nomear cada uma
dessas pistas de duas formas diferentes: nome da pista e do
instrumento. Com os controles de zoom, pode-se ajustar a dimensão de
cada pista, inclusive optando por visualizar o conteúdo gravado em
cada uma, que pode ser em forma de onda (áudio) ou notas
representativas da gravação de MIDI.
O software grava,
através de duas entradas simultâneas, até 16 canais de áudio que são
reproduzidos em sincronismo com o material gravado em até 1000 pistas
de MIDI.
A mixagem pode ser
feita internamente por intermédio do mixer de áudio e do mixer de
MIDI separados. Todos os parâmetros relativos à uma sessão de
mixagem são totalmente automatizados e guardados juntamente com o
arquivo. O mixer de áudio possibilita edições de efeitos variados e
de equalização em duas bandas, que podem ser tratados em real time e
posteriormente endereçados para a saída estéreo ou para as oito saídas
individuais. Este é o ponto máximo desta excelente placa (além da
fidelidade dos conversores). Estúdios de médio porte podem agora
endereçar 8 saídas independentes para um mixer externo, a um custo
muito razoável.
Eficiente Time
Machine, que permite ajustar a afinação e tempo das pistas de áudio
independentemente, ou seja, o sonho aqui se realiza: é possível
mudar o andamento da música sem mudar a afinação e vice-versa. A
quantização do material de MIDI gravado pode ser efetuada também em
real time. Isto significa muita agilidade no processo de trabalho diário.
Excepcional a
possibilidade de se criar short-cuts de teclado pelo Menu / Key
Command. Virtualmente tudo pode ser configurado para se trabalhar com
o tecaldo ao invés do mouse. Inclusive, alguns recursos só estão
disponíveis via teclado. Esta é a forma mais rápida de se trabalhar
musicalmente, principalmente para aqueles que usam sequenciadores
desde o tempo em que mouse era apenas rato em inglês.
É possível ouvir
qualquer material sequenciado ou gravado, em várias janelas,
dragando-se o mouse por cima do material. Isso facilita muito a
localização de determinados trechos ou notas.
O sistema é
cross-plataform, ou seja, pode-se trabalhar com o mesmo arquivo em PC
ou Mac e permite, ainda, upgrade de uma plataforma para outra.
Gravação de MIDI
Nunca é demais
lembrar que o processo de gravação de MIDI é diferente da de áudio.
Quando se grava uma execução a partir de um teclado para o
computador, apenas informações da execução são gravadas: qual
nota foi tocada, com que instensidade e durante quanto tempo. Quando o
computador toca uma sequência, essas mensagens são enviadas de volta
para o teclado, que as interpretará e executará. Na gravação de áudio,
todo material sonoro é convertido de analógico para digital e só
depende do conversor de digital para analógico (presentes na placa de
áudio) de forma a ser reproduzido, ou seja, nenhum teclado é necessário
para a reprodução. A principal regra a seguir no atual esquema de
gravação é: sequenciar os instrumentos informatizados via MIDI e
gravar o áudio dos demais instrumentos (guitarra, sax, voz, etc.)
pela entrada de áudio da placa.
A acuidade da
gravação de MIDI está diretamente relacionada à resolução do
sequenciador. O velho MIDI4 da Passaport, por exemplo, só
“enxergava” 24 subdivisões de uma semínima (ppq – pulse per
quarter note). Isto quer dizer que a interpretação do tecladista era
assimilada de forma imprecisa pelo programa, sendo necessário quantizá-la.
Quantização é o recurso que realoca as notas sequenciadas para
subdivisões de colcheia, semicolcheia, etc., mais próximas de onde
haviam sido gravadas pelo programa. Daí surgiu a música robotizada,
que tanto os críticos malharam nos anos 80. Logo veio a leva de
programas com humanizer, special quantize, random quantize, implementações
que tentam humanizar a reprodução, e que são sempre dignas de serem
dispensadas. A partir da resolução de 480 ppq, introduzida nos
programas como o Cakewalk 3.0, quantizar tornou-se desnecessário, a não
ser que o tecladista tivesse bebido ou que a produção fosse de música
techno-pop, rap ou dance. O Logic Audio Discovery dá um show de
resolução: 960 ppq! É sequenciar e ouvir. Bye bye Control Q!
Sequencia-se neste
programa como em qualquer outro. Apenas vale destacar que, como todo
programa que trabalha conjugado com áudio, os sequenciamentos são
considerados como takes, ou seja, partes do início ao fim da gravação,
ao invés de compassos independentes. Musicalmente falando, este
conceito é retrógrado, mas inevitável por questões de sincronização
interna entre MIDI e áudio. Em contrapartida, força o músico a
executar trechos completos, abandonando a idéia de “picotar” toda
a gravação. Como resultado, a interpretação fica mais musical.
Para que toda essa tecnologia, senão para simplesmente registrar
nossas interpretações? Atualmente, até os pianistas clássicos estão
permitindo edições no ProTools. Pessoalmente, ainda prefiro ouvir um
esbarrão ou uma imprecisão aqui e ali. Para “quebrar”um
determinado trecho em vários, usa-se a ferramenta da tesoura, nos
pontos onde for necessário, tanto nas pistas de MIDI quanto nas de áudio.
O programa
apresenta algumas novidades como ícones para cada instrumento MIDI e
a possibilidade de se atribuir diferentes cores para os blocos
sequenciados em diversos canais ou mesmo dentro de um mesmo canal.
Para sequenciar,
liga-se o metrônomo do programa que pode ser endereçado para o bip
interno do computador ou para qualquer peça de bateria MIDI. Em
seguida, clica-se no botão Rec na janela de Transport, que pode ser
posicionada em qualquer local da tela. O programa monitora
numericamente tudo que está sendo executado, o que proporciona um
acesso visual muito prático das mensagens recebidas. Os canais
sequenciados possuem pequenos VUs que monitoram o volume.
Para se refazer um
trecho do sequenciamento, é só dar um punch in/punch out. Vamos ao
Help. Ah sim, o programa não tem. Vamos ao manual impresso: Índice…
Nada! Vamos lá brasileiros, página por página: nada também. Onde
será que colocaram um simples punch in/punch out? Em determinado
ponto do manual impresso há uma referência de que esse é apenas um
Manual de Referência, e que o usuário deve recorrer ao Grande Manual
onde há informações detalhadas. Só que não há tal manual, então
vamos ao incômodo manula em PDF. Pelo índice, nada. Vamos fazer um
search no próprio PDF. No índice também não está. Devem ter
atribuído outro nome para esta função. Quem adivinha? Ah! Sim, no
Transpot Window encontra-se um ícone com seta para baixo e para cima.
Só pode ser isso. Sim, finalmente. Só que batizaram de Autodrop e em
local nenhum fazem uma analogia com o velho punch in/punch out. No
final das contas, funciona excepcionalmente: define-se uma região
para a sequência ficar em loop, e o ponto de entrada e de saída do
sequenciamento, dentro da região de loop. Assim, pode-se fazer
diversas tentativas até obter uma execução satisfatória. Uma opção
que utilizo para substituir o punch in/out é assinalar mais uma pista
com o mesmo canal de MIDI e fazer novas tentativas do trecho errado
nesse novo canal. Depois, basta fazer um merge para o canal oficial do
instrumento.
Matrix Editor: pode-se editar cada nota ou trechos no Matrix Editor (Piano Roll) que
apresenta novidades interessantes como a regulagem do volume de uma
deteminada nota dragando-se com o mouse. Uma simples nota ou uma região
podem ser selecionados para edição, sendo que ouve-se o som da nota
ao clicar-se com o mouse. As possibilidades de visualização são
muito amplas em termos de dimensionamento, podendo-se, inclusive,
mudar o tipo de fundo desse editor, o que proporciona mais contraste
em relação às barras representivas das notas. Recursos muito
peculiares podem ser notados: clicando-se com o mouse sobre uma nota,
esta soa repetidamente em loop; a ferramenta da tesoura corta uma nota
podendo-se deslocar a parte cortada para outra altura; aumentar a duração
ou colocação de uma nota ou região de notas é um processo bastante
ágil.
Evet list: mostra
numericamente todos os eventos de MIDI sequenciados, permitindo sua
edição por valores numéricos. Dragando-se o mouse com botão
esquerdo pressionado, ouve-se e edita-se os valores; com o direito, a
sequência toca a partir do ponto onde se clica.
Os ícones à
esquerda da janela possibilitam filtrar os eventos da lista, que passa
a mostrar só notas, trocas de programas, mensagens de volume ou
sys-ex. Muito funcional para se localizar rapidamente determinados
tipos de eventos para edição rápida.
Dentro do próprio
editor pode-se inserir notas ou acordes tocando-se no teclado! Pode-se
selecionar inclusive eventos semelhantes para edição ao mesmo tempo.
Por exemplo, para mudar todas as notas da caixa da bateria para outra
peça, ou deletar todos os contratempos abertos. Para se inserir uma
mensagem de Program Change, clica-se na ferramenta do lápis, em
seguida no ícone de Prog Change (88) e logo após, no Enter. Com o
mouse escolhe-se qual o programa, da lista que se abre na janela. A
regra aqui é inserir com lápis, escolher o evento (Pitch Bend,
Volume, etc.), teclar Enter e escolher um valor para o evento.
Como na janela do
Matrix Editor, pode-se dar um zoom para ver um maior número de
eventos. Nesse ponto, o programa crasheou e travou o computador.
Editor de partituras
Outra forma de
visualizar os eventos gravados é em forma de notas na partitura em
scroll view e em page view. Para editá-las usa-se o mouse.
Para inserir
simbolos de pedal, o programa atua de forma inteligente: se um sinal
de pedal foi inserido em um compasso, automaticamente o segundo é
inserido com sinal característico de soltar o pedal. Possui menu com
sinais de expressão e articulação e todos são entrados com o botão
direito do mouse.
Comparando-o com
programas de editoração de partituras à nivel de publicação, como
por exemplo o Finale 97, observa-se que esse editor destina-se apenas
à impressão de partituras para registro ou ensaio. Os recursos
disponibilizados representam um considerável avanço em relação à
outros programas de sequenciamento/notação, como o o Cakewalk. Como
trabalha de forma gráfica apenas, os elementos inseridos na partitura
(articulações, dinâmicas e expressões) ficam flutuantes, e não
“amarrados” às notas onde são aplicados. O único elemento
amarrado é a letra de música, que fica alinhada com as notas.
Nos manuais não
existe referência à cifragem, assim, conclui-se que, infelizmente, o
programa não fornece sufixos para as cifras, o que significa que
devem ser entradas como texto.
Um problema básico
desse tipo de programa é não possibilitar a mudança da fonte
musical. A mudança de fontes é aplicável apenas para os
textos (títulos, letra, etc.).
Imprimi vários
testes nas impressoras laser HP 4L de 300 pontos e na HP 6P de 600
pontos. Em ambas, o resultado foi satisfatório, sendo que obviamente,
na de 600 pontos as curvas ficaram mais precisas com menos aliasing.
Gravação de áudio
Primeiramente
escolhe-se o sample rate para gravação: 32, 44.1 ou 48kHz, pelo ícone
do AW8 no taskbar. De preferência, deixe sempre regulado para o
standard de 44.1kHz. Em seguida, para gravar um ou dois canais de áudio,
seleciona-se o diretório onde será gravado. É recomendável HDs
externos para esta função, sendo que midias removíveis tipo Iomega
Jazz e Zip Drivers podem ser utilizados também.
No menu Window / Open Audio, seleciona-se File / Set
Record Path. Na janela que se abre, define-se o
diretório clicando no Global / Set. Para gravar em mono, conecta-se o
instrumento na entrada esquerda da placa. No Arrange Window, clica-se
do botão R (record) da pista em que se deseja gravar. O R fica
marcado, mostrando que está pronta para gravar (em stand by), em
seguida basta clicar no botão de Rec e executar o instrumento.
Para gravar em estéreo,
usando as duas entradas simultaneamente, clica-se duas vezes na pista
desejada. Abre-se o Audio Mixer. Clica-se no pequeno círculo ao lado
do led vermelho. O track duplica-se, mostrando que a gravação em estéreo
está preparada para receber áudio. As gravações podem ser feitas a
partir do ambiente do mixer, pois o Transporte Window continua disponível.
Desta forma pode-se monitorar o nível do material que está sendo
executado, para evitar clips (distorção), por intermédio dos VUs -
leds de gravação que mostram as variações com um pouco de
atrazo, mas assim mesmo são muito necessários. Para se gravar novo
material nos demais canais, basta repetir a operação, clicando-se
nos canais onde se deseja gravar. Nesse processo, em uma máquina
MMX200 bem afinada, o sistema trabalha tranquilamente, com o material
sequenciado via MIDI sincronizado perfeitamente com o áudio.
Mas como nem tudo
são flores, há um problema básico na gravação de áudio: o
programa não possibilita regulagem do nível de entrada de gravação
na placa. A Emagic esquiva-se dizendo que seu sistema utiliza a mesma
filosofia dos gravadores multicanais de fita. Essa é boa! Existem
muitos gravadores analógicos que regulam volume de entrada, e mesmo
as máquinas de 24 canais de grande porte, no mínimo oferecem
possibilidade de alinhamento preciso da relação In/Out em função
da fita utilizada. O manual aconselha, obviamente, a utilizar a
regulagem de volume da própria fonte que está gerando o áudio
(instrumento ou mixer externo intermediário). É claro que a Emagic
deve estar aprimorando seus drivers, de forma que possibilitem
manimulação do nível de entrada, pois na última versão do driver
que peguei pela Internet, o nível de saída da placa passou a ser
ajustável como um todo, dentro do ambiente de 32 bits. Falta agora,
um driver que seja compatível com o Mixer interno do Windows 95,
assim como fez por exemplo, com muito atrazo a Turtle Beach (Tahiti),
que após um ano de lançamento do Win95, forneceu novos drivers, possibilitando o controle de níveis a partir do mixer de 32
bits do Windows 95. Mas nem todas as marcas estão preocupadas com
seus usuários. A Roland, por exemplo, vergonhosamente até hoje não
forneceu update de seus drivers, para que a placa RAP10 possa se
adequar ao ambiente do Win95. Resultado: o usuário fica com aquele
monte de aplicativos jurássicos brigando com tecnologias mais
recentes. O pior é que o piloto do site da Roland Brasil respondeu às
minhas reclamações da seguinte forma: “caro Luciano, não sei
porque você quer tanto utilizar o mixer do Windows95, que é uma
droga, para controlar a placa RAP10 da Roland. Utilizo a mesma placa,
que toca o som dos games perfeitamente”. Caro leitor: dá para
acreditar? Já no site da Roland Canadá e USA o nível subiu um
pouco: “…os drivers da RAP10 foram testados e mostraram-se compatíveis
com o Win95…”. Só que são drivers de 1994!
Voltando ao nosso Audio Logic Discovery 3.0, por ser
um kit cuja proposta é a de prover o mercado de estúdios
profissionais e semi-profissionais, essa questão do volume de
entrada, precisa ser solucionada. É claro que no próprio programa
pode-se ajustar digitalmente o volume geral do material gravado, sem
perda de qualidade mas, mesmo assim, seria um bom aperfeiçoamento.
Após a gravação, diversas possibilidades de edição
como cut, erase e paste podem ser feitas e desfeitas via undo, ou
seja, essas funções são “não-destrutivas”. Usando a ferramenta
da tesoura, pode-se copiar uma parte do material e colar em outro
canal.
Clicando-se duas vezes no material gravado, aciona-se
o Sample Editor interno, que possui diversas possibilidades de edição:
audio energise (incrementa o nível do material até antes do
clipping); time e pitch machine (regula a afinação e o tempo
independentemente); conversão para vários sample rates; normalize,
mudança de ganho, fade in/fade out, etc.
O programa Cool Edit fornecido no ki pode ser usado
com editor de sample externo, oferecendo mais possibilidades de
tratamento do material gravado, por intermédio do short-cut Control
E. Assim, pode-se usar os recursos e Transforms do Cool Edit,
inclusive o excelent reverb instalado via Active Movie e o Dinamic
Processing.
Aplicando
efeitos em real-time
A partir do MIDI Mixer e do Audio Mixer pode-se
aplicar equalização de duas bandas ou cut-off, flanger, chorus,
reverb, delay e echo em todas as pistas. A grande vantagem de se
trabalhar em real time é que escuta-se o resultado enquanto se
modifica um determinado parâmetro de um efeito. Há duas mandadas de
efeito, bus 1 e bus 2, além do equalizador, e os efeitos têm que
estar com o caminho aberto de forma a atuarem. No mixer de áudio, por
exemplo, o direcionameto e caminho dos efeitos funciona segundo o
conceito de áudio analógico, ou seja, todo o direcionamento tem que
ser estabelecido no mixer. Para tal, no Audio mixer é necessário
abilitar os Inserts do Bus 1 e 2 e direcioná-los para o efeito
desejado. Tenho trabalhado com o Bus 1 para Reverb e o Bus 2 para
Chorus. Em cada canal do mixer, é só incrementar o quanto desses
efeitos se deseja, dragando com o mouse nos pan-pots do Bus 1 e 2. Os
movimentos de modificações nos efeitos também podem ser
automatizados para facilitar o trabalho de mixagem final da música.
Recursos
diversos
Encontra-se ainda, na AE8, infindáveis recusos que
necessitariam de muito espaço para serem descritos e detalhados. Os
mais importantes são: o Hyper Editor que mostra de uma vez na tela e
possibilita a modificação direta
de diversos parâmetros de MIDI relativos à um canal; janela
de Sincronização que trabalha com diversos formatos como MTC, SMPTE,
etc.; Hyper Draw ativado apartir do Edit Matrix, que possibilita
editar graficamente curvas de volume e pan; Video, que executa animações
e clipes em sync com o AW8, possibilitando a gravação do áudio com
precisão; Export Midifiles que salva o trabalho em arquivo padrão
Mididifile; endereçamento de qualquer canal para diferentes placas,
no caso de se utilizar mais de uma placa MIDI; conversão de loops em
cópias reais; gráfico de tempo com tempo list; MMC – MIDI Machine
Control, que acopla o programa à uma central de contrôle de áudio/vídeo.
A
solucionar
Atualizar os manuais para as diferentes plataformas e
eliminar as discrepâncias entre o manual impresso e os textos do
CDROM de forma que facilite a instalação; inserir contrôle de
volume de entrada para agilizar os trabalhos urgentes da área de
multimídia; possibilitar a monitoração de áudio ao se gravar no
Cool Edit com a placa AW8 selecionada (já que segundo a produtora do
Cool Edit, a versão LE é problema da Emagic); aprimorar a linguagem
de algumas funções no sentido de aproximá-las ao padrão já
assimilado pelos usuários; fornecer prontamente, drivers estáveis
para novas tecnologias que surgem a cada semestre.
Conclusão
O manual, muito superficial, mostrou-se ineficiente
para um produto dessa categoria. Ocorre que, na linguagem de MIDI,
gravação para HD e notação musical, muitos termos e conceitos são
completamente novos para a maioria dos usuários; portanto, devem ser
mais detalhados.
O
kit é um investimento que proporciona retorno imediato – seu custo
corresponde a um pequeno trabalho de multimídia ou uma demo tape. A
qualidade incontestável da placa Audiowerk8, unida aos infindáveis
recursos de gravação MIDI e de áudio sincronizados do Audio Logic
Discovery, fazem desse pacote uma ferramenta poderosa. Os interessados
no produto devem considerar a possibilidade
de um upgrade para o Logic Audio 3.0, que é mais completo e vem sendo
utilizado em muitos estúdios de todo o mundo.
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