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Análise do sistema de gravação de aúdio/sequenciamento/notação musical Audiowerk8 Home Studio Kit produzido pela Emagic

Revista Música & Tecnologia, agosto de 1998.

Introdução

Existem no mercado diversos sistemas de gravação de áudio em hard disk com sequenciador e processador de partituras, a partir do razoável custo de R$1.500,00 (incluindo a placa). Geralmente são produtos vendidos separadamente, o que dificulta a escolha dos diversos elementos e aumenta o risco de instabilidade devido às incompatibilidades. Já o Audiowerk8 Home Studio Kit, possui diversas ferramentas conjugadas, o que minimiza os prováveis problemas comumente encontrados nessa área.

A proposta dessa análise é de fornecer dados a respeito de um sistema de gravação digital de alta qualidade e de fácil operação a um custo bem razoável. Optar por um kit contendo placa digitalizadora e software de gravação/sequenciamento/notação é sempre mais aconselhável. É como adquirir um computador de marca –  onde tudo já vem “afinado”, pronto para usar, ao invés de um montado com componentes variados. Ao mesmo tempo, não espere que tudo rode seguramente logo de primeira. Estamos falando de um sistema que tenta simplificar o que já nasceu complexo.

O kit é dependente do potencial da máquina (computador), do sistema operacional e da placa de MIDI instalada. Quando se instala um programa de texto, por exemplo, é 100% provável que após 5 minutos o usuário esteja apto a redigir seus contratos, correspondências, etc. No caso dos sistemas para aplicação em música, a situação é bem diferente, já que diversos fatores estão envolvidos: digitalização e reprodução de som, sequenciamento e reprodução de mensagens MIDI, sincronização interna desses dois elementos, sincronização com áudio e vídeo externos, mixagem interna da parte de MIDI e de áudio, endereçamento dos canais de áudio para um mixer externo via patch bay, configuração do equipamento MIDI via MIDI Patcher, aplicação de efeitos internos, instalação e configuração de impressora para geração de partituras, além da instalação da parte de áudio convencional (mixer, efeitos externos, máquina de mixagem, etc.). Enfim, o termo “gravação” envolve uma parafernália ilimitada e, provavelmente, em algum estágio haverá problemas a solucionar, até que o sistema se estabilize.

Como o brasileiro já está acostumado a sofrer, as dificuldades e frustrações na instalação passam quase desapercebidas. Geralmente, por razões econômicas, o músico, o engenheiro de som ou o produtor fazem tudo por conta própria ao invés de contratar técnicos especializados – aliás, muito raros por essas bandas. É uma situação surreal: após horas de trabalho, a instalação está instável, maceteada e capenga; mas quando o computador consegue esganiçar oito compassos de áudio gravado sincronizado com um simples instrumento MIDI, já é razão para convidar os amigos e comemorar o sucesso!

Foi pensando no músico que deseja ter um sistema de gravação digital de porte médio (expandível), mas que não tem know how para caminhar com as próprias pernas ou dinheiro para contratar pessoal técnico, que resolvi fazer essa análise. Como regra geral, sequenciamento significa entrada de dados musicais via MIDI; já gravação, refere-se ao registro de áudio em hard disk.

O Kit Audiowerk8

Sistema integrado de gravação digital para hard disk, com sequenciador e notação musical. Já vem com a placa de som PCI com entradas e saídas RCA – sem conector de MIDI. O software que sequencia até 1000 canais de MIDI (com a estupenda resolução de 960 ppq), grava som, e gera partituras, é o Logic Audio Discovery ver. 3.0. A placa digitalizadora com excelentes conversores A/D D/A é a Audiowerk8, que possui duas entradas analógicas, entrada e saída digital (I/O S/P-DIF) e oito saídas analógicas endereçáveis a partir do Audio Mixer interno. Utilizando a mixagem interna para dois canais, o kit pode processar até 16 canais de áudio com diversos efeitos simultâneos. A capacidade de processamento desses elementos fica limitada à velocidade da CPU (processador do computador), à quantidade de memória e ao espaço de hard disk.

O kit inclui ainda, o editor de material sonoro Cool Edit LE – uma versão reduzida do Cool Edit Pro da Syntrillium Software Corp.; o software VMR, que possui uma interface antiga sem muitos recursos, para gravar simplesmente áudio; o Sound Diver – que é um MIDI Editor/Librarian; e o Hearmaster, programa de treinamento de percepção musical. Para Macintosh, é oferecido ainda, a ferramenta ZAP, que comprime os arquivos de áudio em até 60% do tamanho.

Instalação

O kit pode ser instalado em PC com Windows95 ou em Power Mac com MacOS. Esse teste foi realizado em um Pentium MMX200 com 64MB de RAM, Windows95 ver 4.0 e Explorer 4.0. Antes de instalar o kit, o computador foi configurado e testado durante 15 dias, sem apresentar nenhum tipo de problema.

O sistema roda a partir de Pentiuns de 100MHz com 16MB e o hard disk pode ser EIDE de no mínimo 1.2 Giga, sendo muito recomendável HDs externos SCSI. A taxa de transferência mínima deve ser abaixo de 12 ms. De qualquer forma, o HD deve ser dedicado somente para gravação de áudio e defragmentado antes de cada série de gravações, de forma a proporcinar melhor rendimento.

Primeiramente, instala-se a placa Audiowerk8 em um dos slots PCI disponíveis. Após fechar o computador, conecta-se os cabos de áudio no patch bay ou no mixer. Para efeito de testes, pode-se utilizar somente dois canais de entrada e de saída, conectando a saída de áudio direita e esqueda de um teclado às entradas 1 e 2 da placa. Os conectores da placa são RCA fêmea; logo, é necessário ter vários cabos com plug de guitarra de um lado e RCA macho do outro. Se desejar trabalhar em um ambiente mais seguro e profissional, adquira separadamente a unidade de rack Breakout8 que pode ser conectada à placa e possui jacks do tipo banana ao invés de RCA.

O kit não oferece entradas e saídas de MIDI, mas processa as informações internamente utilizando os recursos do próprio sistema operacional. Isso quer dizer que, para trabalhar com MIDI sincronizado ao áudio, deve-se obter separadamente, uma placa de MIDI confiável, de preferência que gere sinal de sync SMPTE para se acoplar o sistema de música informatizada com gravadores multicanais externos. Utilizo a placa de MIDI MQX32M há quase dez anos e, surpreendentemente, ainda é uma das placas mais procuradas, pela eficiência e segurança que oferece. Possui 2 ins e 2 outs, saída de metrônomo e gera e lê SMPTE em todos os formatos. No mundo do PC, a nível profissional, essa placa tornou-se o standard de MIDI. Se você já tem uma placa MIDI instalada no computador, pode perfeitamente usá-la, tornando desnecessária mais uma despesa. 

Com a placa de áudio Audiowerk8 e a de MIDI instaladas, o próximo passo é instalar o software Logic Audio Discovery 3.0 e o Cool Edit LE, fornecidos com o kit, em CDROM. Hora da decisão: seguir o manual impresso ou utilizar os recursos mais modernos de instalação presentes em qualquer CDROM? Se você já está acostumado a instalar a partir de ícones, preferirá o CDROM; se for mais meticuloso e deseja aprender enquanto instala, apelará para a instalação via manual. Em ambos os casos, a probabilidade de sucesso não é de 100%, pois o manual impresso não está “afinado” com os textos do CDROM. É claro que a instalação funcionará, mas lá para a frente, os problemas começarão a aparecer. Tanto o manual de apenas 17 páginas, como a disposição de textos no CDROM, estão muito aquém do mínimo necessário para uma instalação segura. Resultado: após a instalação por intermédio do manual, descobre-se que as instruções para uma instalação mais estável estão no CDROM. Na versão testada (para PC), nada de ícones, instruções narradas, música de abertura, etc. É um CDROM “duro”, feito de encomenda para “vasculhadores”. Se não for o seu caso, trate de seguir atentamente essa análise.

O editor de som Cool Edit pode ser acionado a partir do Audio Logic Discovery de forma que se possa trabalhar no material gravado de forma integrada. Só que o Cool Edit tem que ser instalado primeiro, senão o Logic Audio Discovery não o aciona. O manual não menciona este fato. Mais adiante, um arquivo de texto dá o alerta e sugere que se refaça a instalação na ordem correta. Diante dessa situação, parti para inverstigar em que local do Win.Ini, ficara registrado que o Cool Edit seria o editor do Logic Audio Discovery. Logo descobri e fiz o endereçamento adequado. Entusiasmado com o Cool Edit, passei a testá-lo isoladamente, como um programa sampleador de fontes externas (CD, teclados, voz, etc.). Mais uma surra: ocorre que a versão LE do Cool Edit, que faz parte do kit, não possibilita monitorar áudio enquanto se grava com a placa AW8 (pelo menos em meu sistema, que como já disse, foi arduamente testado). Já em outras placas como a Tahiti (Turtle Beach) ou a RAP10 (Roland) monitora instantaneamente.

No final do processo de instalação, é pedido para inserir o disquete com a chave de proteção. Esta é a forma utilizada para inibir a pirataria do programa. O disquete possibilita duas instalações, como segurança. No caso do usuário trocar de hard disk, a primeira instalação não é “queimada”. Para tal, é necessárico proceder com o ritual de retornar a chave para o disquete.

Após instalar os programas, um teste básico: vamos ouvir um simples arquivo de som WAV em estéreo, 44.1 KHz a 16 bits, sendo executado através da Audiowerk8 para comparar a qualidade em relação à outras placas instaladas. Deve proporcionar muito mais fidelidade, já que o conversor D/A foi projetado seguindo parâmetros profissionais. Surpresa! Não toca nada. Aí pensa-se: bem, é uma placa e um software que trabalham integralmente no ambiente de 32 bits; é claro que não tocaria arquivos gerados para o de 16bits. O driver que veio com a placa não atua nos arquivos de som do sistema. Só que o manual não diz nada sobre isso, e nem avisa para recorrer aos arquivos de texto do CDROM. Assim, é hora de partir para a leitura meticulosa do manual incluído no CDROM em arquivo PDF. Surprendentemente, o programa não inclui um help de consultas rápidas, obrigando o usuário a investigar no manual em PDF, já que o manual gráfico é muito precário. Mais uma desafinada: o manual em PDF constantemente se refere à teclas que não existem no PC.

O novo driver que executa arquivos WAV para 16 bits me foi fornecido pela Quanta (representante do kit no Brasil), mas encontra-se disponível, também, no site da Emagic. Após instalado, passa-se a ouvir os arquivos WAV do sistema. Mais tarde peguei na Internet um driver ainda mais novo que permite ligar ou desligar a monitoração do áudio gravado pela placa AW8.

Passo seguinte: testar meticulosamente o editor Cool Edit LE - ótimo aplicativo de 32bits para samplear de CD ou editar material gravado pelo Logic Audio Discovery. O Cool Edit utiliza vários processadores de áudio, denominados de Transforms (echo, flanger, reverber, dinamic processing, etc.). Alguns Transforms podem ser adicionados a qualquer tempo, como é o caso do excelente processador de reverber fornecido como um plug-in via Active Movie/Direct-X (tecnologia da Microsoft que permite que programadores externos criem novos recursos para serem acoplados ao programa).

Como eu já tinha o Active Movie instalado em meu sistema quando da instalação do Explorer 4.0, preferi dispensar a instalação do que vem no CDROM, e passei a pesquisar uma forma de instalar somente o processador de efeitos JetSFX Filter. Um tanto obscuro, pois no CDROM, o único ítem relativo ao assunto é o arquivo Amovie.exe, presente no mesmo diretório do Cool Edit. Como não há nenhum esclarecimento sobre o assunto no manual gráfico ou no CDROM, fui buscar informações no site da Cyntrillium (produtora do Cool Edit), onde o assunto é abordado superficialmente. Reparei também, que o suporte técnico não dá muita atenção aos usuários da versão Cool Edit LE: “- caro Luciano, por favor reporte suas questões à Emagic pois essa versão agora é departamento deles, já que foi feita só para inclusão no Kit Audiowerk8”. Como bom brasileiro, conheço de longe o “jogo de empurra” quando a coisa está pegando. Afinal, estou pedindo à TELERJ a mudança da minha maldita linha telefônica há mais de um ano, o que me graduou no assunto.

Na falta de resposta, instalei o ActiveMovie que veio no CDROM. A partir daí, os efeitos de reverb do JetSFX Filter ficaram disponíveis como mais um Transform no Cool Edit, mas o Active Movie parou de executar os arquivos WAV e MIDI a partir do Explorer 4.0. Erro no Registry!

No site da Microsoft, peguei e instalei o Microsoft DirectX Media 5.2b SDK que possui novo run time do DirectX. Assim, O Active Movie voltou a funcionar perfeitamente.

O Logic Audio Discovery 3.0  

É muito interessante observar o avanço dos softwares de sequenciamento. Do MIDI4 da Passaport (1985) até o atual Logic Audio Discovery, o salto foi considerável, em termos de recursos. A própria informática evoluiu muito, possibilitando o uso de ferramentas nunca antes imaginado. O Logic Audio Discovery 3.0 – programa produzido na Alemaha pela Emagic - tem quase as mesmas funções que seu irmão mais velho Logic Audio 3.0, a um preço mais convidadativo e foi desenvolvido para sequenciar com a placa Audiowerk8, o que elimina problemas de imcompatibilidade. Pode ser usado também com a placa Digidesign, instalando-se os devidos drivers. A seguir, são descritas algumas características importantes do programa.

Seu display é complexo mas extremamente amigável e funcional, sendo melhor visualizado na resolução de 800 x 600. A grande vantagem desse programa é a possibilidade de se trabalhar no ambiente que se deseja, podendo suportar diversas configurações diferentes. Se, por exemplo, um trabalho exige somente gravação de MIDI, escolhe-se uma configuração que mostre somente os tracks de MIDI. As posições das janelas são flutuantes e podem ser salvas junto com os arquivos.

A janela de Arrange é a área principal de trabalho, onde são mostradas as pistas de gravação de áudio e de MIDI. É possível nomear cada uma dessas pistas de duas formas diferentes: nome da pista e do instrumento. Com os controles de zoom, pode-se ajustar a dimensão de cada pista, inclusive optando por visualizar o conteúdo gravado em cada uma, que pode ser em forma de onda (áudio) ou notas representativas da gravação de MIDI.

O software grava, através de duas entradas simultâneas, até 16 canais de áudio que são reproduzidos em sincronismo com o material gravado em até 1000 pistas de MIDI.

A mixagem pode ser feita internamente por intermédio do mixer de áudio e do mixer de MIDI separados. Todos os parâmetros relativos à uma sessão de mixagem são totalmente automatizados e guardados juntamente com o arquivo. O mixer de áudio possibilita edições de efeitos variados e de equalização em duas bandas, que podem ser tratados em real time e posteriormente endereçados para a saída estéreo ou para as oito saídas individuais. Este é o ponto máximo desta excelente placa (além da fidelidade dos conversores). Estúdios de médio porte podem agora endereçar 8 saídas independentes para um mixer externo, a um custo muito razoável.

Eficiente Time Machine, que permite ajustar a afinação e tempo das pistas de áudio independentemente, ou seja, o sonho aqui se realiza: é possível mudar o andamento da música sem mudar a afinação e vice-versa. A quantização do material de MIDI gravado pode ser efetuada também em real time. Isto significa muita agilidade no processo de trabalho diário.

Excepcional a possibilidade de se criar short-cuts de teclado pelo Menu / Key Command. Virtualmente tudo pode ser configurado para se trabalhar com o tecaldo ao invés do mouse. Inclusive, alguns recursos só estão disponíveis via teclado. Esta é a forma mais rápida de se trabalhar musicalmente, principalmente para aqueles que usam sequenciadores desde o tempo em que mouse era apenas rato em inglês.

É possível ouvir qualquer material sequenciado ou gravado, em várias janelas, dragando-se o mouse por cima do material. Isso facilita muito a localização de determinados trechos ou notas.

O sistema é cross-plataform, ou seja, pode-se trabalhar com o mesmo arquivo em PC ou Mac e permite, ainda, upgrade de uma plataforma para outra.     

Gravação de MIDI

Nunca é demais lembrar que o processo de gravação de MIDI é diferente da de áudio. Quando se grava uma execução a partir de um teclado para o computador, apenas informações da execução são gravadas: qual nota foi tocada, com que instensidade e durante quanto tempo. Quando o computador toca uma sequência, essas mensagens são enviadas de volta para o teclado, que as interpretará e executará. Na gravação de áudio, todo material sonoro é convertido de analógico para digital e só depende do conversor de digital para analógico (presentes na placa de áudio) de forma a ser reproduzido, ou seja, nenhum teclado é necessário para a reprodução. A principal regra a seguir no atual esquema de gravação é: sequenciar os instrumentos informatizados via MIDI e gravar o áudio dos demais instrumentos (guitarra, sax, voz, etc.) pela entrada de áudio da placa.

A acuidade da gravação de MIDI está diretamente relacionada à resolução do sequenciador. O velho MIDI4 da Passaport, por exemplo, só “enxergava” 24 subdivisões de uma semínima (ppq – pulse per quarter note). Isto quer dizer que a interpretação do tecladista era assimilada de forma imprecisa pelo programa, sendo necessário quantizá-la. Quantização é o recurso que realoca as notas sequenciadas para subdivisões de colcheia, semicolcheia, etc., mais próximas de onde haviam sido gravadas pelo programa. Daí surgiu a música robotizada, que tanto os críticos malharam nos anos 80. Logo veio a leva de programas com humanizer, special quantize, random quantize, implementações que tentam humanizar a reprodução, e que são sempre dignas de serem dispensadas. A partir da resolução de 480 ppq, introduzida nos programas como o Cakewalk 3.0, quantizar tornou-se desnecessário, a não ser que o tecladista tivesse bebido ou que a produção fosse de música techno-pop, rap ou dance. O Logic Audio Discovery dá um show de resolução: 960 ppq! É sequenciar e ouvir. Bye bye Control Q!

Sequencia-se neste programa como em qualquer outro. Apenas vale destacar que, como todo programa que trabalha conjugado com áudio, os sequenciamentos são considerados como takes, ou seja, partes do início ao fim da gravação, ao invés de compassos independentes. Musicalmente falando, este conceito é retrógrado, mas inevitável por questões de sincronização interna entre MIDI e áudio. Em contrapartida, força o músico a executar trechos completos, abandonando a idéia de “picotar” toda a gravação. Como resultado, a interpretação fica mais musical. Para que toda essa tecnologia, senão para simplesmente registrar nossas interpretações? Atualmente, até os pianistas clássicos estão permitindo edições no ProTools. Pessoalmente, ainda prefiro ouvir um esbarrão ou uma imprecisão aqui e ali. Para “quebrar”um determinado trecho em vários, usa-se a ferramenta da tesoura, nos pontos onde for necessário, tanto nas pistas de MIDI quanto nas de áudio.

O programa apresenta algumas novidades como ícones para cada instrumento MIDI e a possibilidade de se atribuir diferentes cores para os blocos sequenciados em diversos canais ou mesmo dentro de um mesmo canal.

Para sequenciar, liga-se o metrônomo do programa que pode ser endereçado para o bip interno do computador ou para qualquer peça de bateria MIDI. Em seguida, clica-se no botão Rec na janela de Transport, que pode ser posicionada em qualquer local da tela. O programa monitora numericamente tudo que está sendo executado, o que proporciona um acesso visual muito prático das mensagens recebidas. Os canais sequenciados possuem pequenos VUs que monitoram o volume.

Para se refazer um trecho do sequenciamento, é só dar um punch in/punch out. Vamos ao Help. Ah sim, o programa não tem. Vamos ao manual impresso: Índice… Nada! Vamos lá brasileiros, página por página: nada também. Onde será que colocaram um simples punch in/punch out? Em determinado ponto do manual impresso há uma referência de que esse é apenas um Manual de Referência, e que o usuário deve recorrer ao Grande Manual onde há informações detalhadas. Só que não há tal manual, então vamos ao incômodo manula em PDF. Pelo índice, nada. Vamos fazer um search no próprio PDF. No índice também não está. Devem ter atribuído outro nome para esta função. Quem adivinha? Ah! Sim, no Transpot Window encontra-se um ícone com seta para baixo e para cima. Só pode ser isso. Sim, finalmente. Só que batizaram de Autodrop e em local nenhum fazem uma analogia com o velho punch in/punch out. No final das contas, funciona excepcionalmente: define-se uma região para a sequência ficar em loop, e o ponto de entrada e de saída do sequenciamento, dentro da região de loop. Assim, pode-se fazer diversas tentativas até obter uma execução satisfatória. Uma opção que utilizo para substituir o punch in/out é assinalar mais uma pista com o mesmo canal de MIDI e fazer novas tentativas do trecho errado nesse novo canal. Depois, basta fazer um merge para o canal oficial do instrumento.

Matrix Editor: pode-se editar cada nota ou trechos no Matrix Editor (Piano Roll) que apresenta novidades interessantes como a regulagem do volume de uma deteminada nota dragando-se com o mouse. Uma simples nota ou uma região podem ser selecionados para edição, sendo que ouve-se o som da nota ao clicar-se com o mouse. As possibilidades de visualização são muito amplas em termos de dimensionamento, podendo-se, inclusive, mudar o tipo de fundo desse editor, o que proporciona mais contraste em relação às barras representivas das notas. Recursos muito peculiares podem ser notados: clicando-se com o mouse sobre uma nota, esta soa repetidamente em loop; a ferramenta da tesoura corta uma nota podendo-se deslocar a parte cortada para outra altura; aumentar a duração ou colocação de uma nota ou região de notas é um processo bastante ágil.

Evet list: mostra numericamente todos os eventos de MIDI sequenciados, permitindo sua edição por valores numéricos. Dragando-se o mouse com botão esquerdo pressionado, ouve-se e edita-se os valores; com o direito, a sequência toca a partir do ponto onde se clica.

Os ícones à esquerda da janela possibilitam filtrar os eventos da lista, que passa a mostrar só notas, trocas de programas, mensagens de volume ou sys-ex. Muito funcional para se localizar rapidamente determinados tipos de eventos para edição rápida.

Dentro do próprio editor pode-se inserir notas ou acordes tocando-se no teclado! Pode-se selecionar inclusive eventos semelhantes para edição ao mesmo tempo. Por exemplo, para mudar todas as notas da caixa da bateria para outra peça, ou deletar todos os contratempos abertos. Para se inserir uma mensagem de Program Change, clica-se na ferramenta do lápis, em seguida no ícone de Prog Change (88) e logo após, no Enter. Com o mouse escolhe-se qual o programa, da lista que se abre na janela. A regra aqui é inserir com lápis, escolher o evento (Pitch Bend, Volume, etc.), teclar Enter e escolher um valor para o evento.

Como na janela do Matrix Editor, pode-se dar um zoom para ver um maior número de eventos. Nesse ponto, o programa crasheou e travou o computador.

Editor de partituras

Outra forma de visualizar os eventos gravados é em forma de notas na partitura em scroll view e em page view. Para editá-las usa-se o mouse.

Para inserir simbolos de pedal, o programa atua de forma inteligente: se um sinal de pedal foi inserido em um compasso, automaticamente o segundo é inserido com sinal característico de soltar o pedal. Possui menu com sinais de expressão e articulação e todos são entrados com o botão direito do mouse.

Comparando-o com programas de editoração de partituras à nivel de publicação, como por exemplo o Finale 97, observa-se que esse editor destina-se apenas à impressão de partituras para registro ou ensaio. Os recursos disponibilizados representam um considerável avanço em relação à outros programas de sequenciamento/notação, como o o Cakewalk. Como trabalha de forma gráfica apenas, os elementos inseridos na partitura (articulações, dinâmicas e expressões) ficam flutuantes, e não “amarrados” às notas onde são aplicados. O único elemento amarrado é a letra de música, que fica alinhada com as notas.

Nos manuais não existe referência à cifragem, assim, conclui-se que, infelizmente, o programa não fornece sufixos para as cifras, o que significa que devem ser entradas como texto.

Um problema básico desse tipo de programa é não possibilitar a mudança da fonte  musical. A mudança de fontes é aplicável apenas para os textos (títulos, letra, etc.).

Imprimi vários testes nas impressoras laser HP 4L de 300 pontos e na HP 6P de 600 pontos. Em ambas, o resultado foi satisfatório, sendo que obviamente, na de 600 pontos as curvas ficaram mais precisas com menos aliasing.

Gravação de áudio

Primeiramente escolhe-se o sample rate para gravação: 32, 44.1 ou 48kHz, pelo ícone do AW8 no taskbar. De preferência, deixe sempre regulado para o standard de 44.1kHz. Em seguida, para gravar um ou dois canais de áudio, seleciona-se o diretório onde será gravado. É recomendável HDs externos para esta função, sendo que midias removíveis tipo Iomega Jazz e Zip Drivers podem ser utilizados também.

No menu Window / Open Audio, seleciona-se File / Set Record Path. Na janela que se abre, define-se o diretório clicando no Global / Set. Para gravar em mono, conecta-se o instrumento na entrada esquerda da placa. No Arrange Window, clica-se do botão R (record) da pista em que se deseja gravar. O R fica marcado, mostrando que está pronta para gravar (em stand by), em seguida basta clicar no botão de Rec e executar o instrumento.

Para gravar em estéreo, usando as duas entradas simultaneamente, clica-se duas vezes na pista desejada. Abre-se o Audio Mixer. Clica-se no pequeno círculo ao lado do led vermelho. O track duplica-se, mostrando que a gravação em estéreo está preparada para receber áudio. As gravações podem ser feitas a partir do ambiente do mixer, pois o Transporte Window continua disponível. Desta forma pode-se monitorar o nível do material que está sendo executado, para evitar clips (distorção), por intermédio dos VUs -  leds de gravação que mostram as variações com um pouco de atrazo, mas assim mesmo são muito necessários. Para se gravar novo material nos demais canais, basta repetir a operação, clicando-se nos canais onde se deseja gravar. Nesse processo, em uma máquina MMX200 bem afinada, o sistema trabalha tranquilamente, com o material sequenciado via MIDI sincronizado perfeitamente com o áudio.

Mas como nem tudo são flores, há um problema básico na gravação de áudio: o programa não possibilita regulagem do nível de entrada de gravação na placa. A Emagic esquiva-se dizendo que seu sistema utiliza a mesma filosofia dos gravadores multicanais de fita. Essa é boa! Existem muitos gravadores analógicos que regulam volume de entrada, e mesmo as máquinas de 24 canais de grande porte, no mínimo oferecem possibilidade de alinhamento preciso da relação In/Out em função da fita utilizada. O manual aconselha, obviamente, a utilizar a regulagem de volume da própria fonte que está gerando o áudio (instrumento ou mixer externo intermediário). É claro que a Emagic deve estar aprimorando seus drivers, de forma que possibilitem manimulação do nível de entrada, pois na última versão do driver que peguei pela Internet, o nível de saída da placa passou a ser ajustável como um todo, dentro do ambiente de 32 bits. Falta agora, um driver que seja compatível com o Mixer interno do Windows 95, assim como fez por exemplo, com muito atrazo a Turtle Beach (Tahiti), que após um ano de lançamento do Win95, forneceu novos drivers,  possibilitando o controle de níveis a partir do mixer de 32 bits do Windows 95. Mas nem todas as marcas estão preocupadas com seus usuários. A Roland, por exemplo, vergonhosamente até hoje não forneceu update de seus drivers, para que a placa RAP10 possa se adequar ao ambiente do Win95. Resultado: o usuário fica com aquele monte de aplicativos jurássicos brigando com tecnologias mais recentes. O pior é que o piloto do site da Roland Brasil respondeu às minhas reclamações da seguinte forma: “caro Luciano, não sei porque você quer tanto utilizar o mixer do Windows95, que é uma droga, para controlar a placa RAP10 da Roland. Utilizo a mesma placa, que toca o som dos games perfeitamente”. Caro leitor: dá para acreditar? Já no site da Roland Canadá e USA o nível subiu um pouco: “…os drivers da RAP10 foram testados e mostraram-se compatíveis com o Win95…”. Só que são drivers de 1994!    

Voltando ao nosso Audio Logic Discovery 3.0, por ser um kit cuja proposta é a de prover o mercado de estúdios profissionais e semi-profissionais, essa questão do volume de entrada, precisa ser solucionada. É claro que no próprio programa pode-se ajustar digitalmente o volume geral do material gravado, sem perda de qualidade mas, mesmo assim, seria um bom aperfeiçoamento.

Após a gravação, diversas possibilidades de edição como cut, erase e paste podem ser feitas e desfeitas via undo, ou seja, essas funções são “não-destrutivas”. Usando a ferramenta da tesoura, pode-se copiar uma parte do material e colar em outro canal.

Clicando-se duas vezes no material gravado, aciona-se o Sample Editor interno, que possui diversas possibilidades de edição: audio energise (incrementa o nível do material até antes do clipping); time e pitch machine (regula a afinação e o tempo independentemente); conversão para vários sample rates; normalize, mudança de ganho, fade in/fade out, etc.

O programa Cool Edit fornecido no ki pode ser usado com editor de sample externo, oferecendo mais possibilidades de tratamento do material gravado, por intermédio do short-cut Control E. Assim, pode-se usar os recursos e Transforms do Cool Edit, inclusive o excelent reverb instalado via Active Movie e o Dinamic Processing.

Aplicando efeitos em real-time

A partir do MIDI Mixer e do Audio Mixer pode-se aplicar equalização de duas bandas ou cut-off, flanger, chorus, reverb, delay e echo em todas as pistas. A grande vantagem de se trabalhar em real time é que escuta-se o resultado enquanto se modifica um determinado parâmetro de um efeito. Há duas mandadas de efeito, bus 1 e bus 2, além do equalizador, e os efeitos têm que estar com o caminho aberto de forma a atuarem. No mixer de áudio, por exemplo, o direcionameto e caminho dos efeitos funciona segundo o conceito de áudio analógico, ou seja, todo o direcionamento tem que ser estabelecido no mixer. Para tal, no Audio mixer é necessário abilitar os Inserts do Bus 1 e 2 e direcioná-los para o efeito desejado. Tenho trabalhado com o Bus 1 para Reverb e o Bus 2 para Chorus. Em cada canal do mixer, é só incrementar o quanto desses efeitos se deseja, dragando com o mouse nos pan-pots do Bus 1 e 2. Os movimentos de modificações nos efeitos também podem ser automatizados para facilitar o trabalho de mixagem final da música.

Recursos diversos

Encontra-se ainda, na AE8, infindáveis recusos que necessitariam de muito espaço para serem descritos e detalhados. Os mais importantes são: o Hyper Editor que mostra de uma vez na tela e possibilita a modificação direta  de diversos parâmetros de MIDI relativos à um canal; janela de Sincronização que trabalha com diversos formatos como MTC, SMPTE, etc.; Hyper Draw ativado apartir do Edit Matrix, que possibilita editar graficamente curvas de volume e pan; Video, que executa animações e clipes em sync com o AW8, possibilitando a gravação do áudio com precisão; Export Midifiles que salva o trabalho em arquivo padrão Mididifile; endereçamento de qualquer canal para diferentes placas, no caso de se utilizar mais de uma placa MIDI; conversão de loops em cópias reais; gráfico de tempo com tempo list; MMC – MIDI Machine Control, que acopla o programa à uma central de contrôle de áudio/vídeo.   

A solucionar

Atualizar os manuais para as diferentes plataformas e eliminar as discrepâncias entre o manual impresso e os textos do CDROM de forma que facilite a instalação; inserir contrôle de volume de entrada para agilizar os trabalhos urgentes da área de multimídia; possibilitar a monitoração de áudio ao se gravar no Cool Edit com a placa AW8 selecionada (já que segundo a produtora do Cool Edit, a versão LE é problema da Emagic); aprimorar a linguagem de algumas funções no sentido de aproximá-las ao padrão já assimilado pelos usuários; fornecer prontamente, drivers estáveis para novas tecnologias que surgem a cada semestre.

Conclusão

O manual, muito superficial, mostrou-se ineficiente para um produto dessa categoria. Ocorre que, na linguagem de MIDI, gravação para HD e notação musical, muitos termos e conceitos são completamente novos para a maioria dos usuários; portanto, devem ser mais detalhados.

O kit é um investimento que proporciona retorno imediato – seu custo corresponde a um pequeno trabalho de multimídia ou uma demo tape. A qualidade incontestável da placa Audiowerk8, unida aos infindáveis recursos de gravação MIDI e de áudio sincronizados do Audio Logic Discovery, fazem desse pacote uma ferramenta poderosa. Os interessados no produto devem considerar a  possibilidade de um upgrade para o Logic Audio 3.0, que é mais completo e vem sendo utilizado em muitos estúdios de todo o mundo.

 

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