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Análise do programa de notação musical Finale 97 (Coda Music Technology)

Revista Música & Tecnologia, nº 66, abril de 1998.

Introdução

Há exatamente um ano, analisei o programa Finale versão 3.7 na revista M&T nº 58 (fevereiro de 1997). Todos os tópicos importantes foram descritos, formando um mini-tratado aprofundado e prático, o qual, para meu espanto, gerou várias correspondências de usuários espalhados por todo o país.

É sabido que este programa tem fama de complicado, o que faz com que os possíveis interessados recorram aos seus concorrentes mais simples - e ineficientes. Foi gratificante saber que já existia no Brasil, um grupo de persistentes sofredores, investindo no Finale, e que, principalmente, novos usuários foram arrebatados para o clube, após a matéria. Desde 1991, quando comecei a estudar o programa (em Copenhagen na Dinamarca), venho reparando que ser usuário e conhecedor do Finale, cria uma certa distinção no mercado da música informatizada. Após alguns anos de resistência, muitos músicos no Brasil chegaram à mesma conclusão, e assim, o clube encontra-se em plena expansão.

Venho utilizando profissionalmente este programa desde a versão 2.0 e a partir de um ano inteiro de uso, passei a dominá-lo. Verdade seja dita: não é um programa fácil de aprender e de dominar. No princípio, é como tentar levantar vôo com um Concord, sem nunca ter pilotado sequer um Cesna. Muitos decidem começar pelo Encore (programa de notação mais fácil), mas essa tática não contribui muito para formar uma base sólida, já que, nessa área, os programas operarem de formas bem distintas. O Encore como um degrau, serve no máximo para se aprender a linguagem da música escrita que, diga-se de passagem, é vastíssima. Sem querer iniciar uma discussão do tipo IBM x Mac, o Encore é um programa sem recursos, se comparado com o Finale. Nos meus workshops, costumo dizer que o Encore é o Write (do Windows 3.1), enquanto que o Finale é o Word 7.0. É claro que tal afirmação provoca reações de muita raiva! Certa vez, logo ao iniciar um workshop, mencionei o Finale como sendo o melhor programa de notação musical, e subitamente um aluno me interrompeu: - E o Encore, não é um bom programa? Prontamente respondi: - senhores, estamos aqui reunidos para estudar programas de verdade. É claro, o sujeito ficou indignado… Para não dar impressão de que sou radical, gosto do Encore tocando as partituras em Page View (visão de página). Este é um bom recurso quando é necessário fazer uma demonstração para um cliente.

Os motivos principais dessa nova análise, é de rever o funcionamento geral do Finale; atualizar informações a respeito de recursos que foram aprimorados e abordar as novidades implementadas na versão 97. Os interessados na primeira análise (da versão 3.7), podem requerer o exemplar nº 66 na própria M&T. Aqui, o leitor encontrará diversas comparações com versões anteriores, proporcionando assim, uma visão da sua evolução lenta, mas eficaz.

Geralmente, ao fazer uma análise, começo lendo os manuais, read me files, helps, etc. Em seguida passo para o teste das funções, uma a uma. Mas como o tempo anda raro, resolvi adotar uma nova estratégia: enquanto trabalhava, anotei todas as novidades e recursos principais. Assim, essa análise foi desenvolvida pararelamente com a editoração dos song-books do Beto Guedes, dos Mutantes e do Victor Biglione. Esse último, foi a razão que me levou a fazer o update da versão 3.7 para a 97.

Na verdade, o livro de melodias cifradas do Victor Biglione já estava pronto para entrar na gráfica quando recebi um telefonema do editor: - Luciano, que tal incluirmos tablatura nesse trabalho, já que trata-se de um livro de guitarra? Foi um susto! Imagine que você está com o seu CD que lhe custou seis meses de gravações, mixagem e masterização, pronto para ir para a fábrica e a gravadora resolve fazer uma “modificaçãozinha”: incluir percussão em todas as faixas!

Para solucionar o problema, ainda com a versão 3.7, comecei preparando um método de trabalho onde eu não levasse mais meio ano nesse livro. Para cada uma das 25 músicas incluídas, criei a pauta de tablatura (tarefa árdua, onde apenas o mouse e a visão não são suficientes, sendo aconselhável a edição por números, na casa dos milímetros). Para associar cada nota da melodia com o número do traste da tablatura seria necessário editar uma a uma. Foi quando resolvi pesquisar no site da Coda e descobri que o Finale 97 não só produzia os números automaticamente, como também, todas as linhas da pauta de tablatura. Assim, descartei todos os arquivos que havia criado pacientemente e recomecei do zero. Com a função de tablatura automática, o trabalho que me tomaria 4 horas para cada música, foi efetuado em 4 dias para um total de 25 músicas. Salvo pelo gongo - ou melhor, pela Coda!

Revendo o Finale

Programa de notação musical com sequenciador. Imprime partituras com saída sofisticada a nível de publicação. Uma de suas características mais impressionantes é a quantidade ilimitada de recursos, sendo que, quando é necessário incluir algum símbolo que não tenha no programa, é só criá-lo no Editor Gráfico embutido. Com o tempo, repara-se que muitas funções podem ser acessadas e processadas de várias formas diferentes. Cada usuário direcionará sua forma de operar, da maneira que lhe for mais conveniente.

Roda tranquilamente em máquinas 486 com Win 3.1, sendo recomendável no mínimo um Pentium 60 MHz com Win 95 e placa de vídeo com 2 Mb. A velocidade da placa é fundamental para trabalhos complexos de orquestra, onde muitos elementos são mostrados em uma só página. Este teste foi realizado com um Pentium MMX 200, com placa de vídeo de 2 Mb, e o programa rodou com velocidade surpreendente, mesmo nas partituras mais densas. A versão 97 encontra-se disponível também para Mac.

O Finale trabalha com fontes Type 1 (Adobe) ou, de preferência, com as True Type (Microsoft). A atual versão da font TT Petrucci que já vem com o programa, foi bem aprimorada, sendo considerada a melhor fonte de símbolos musicais, de acordo com o padrão italiano de notação musical. Opcionamente, pode-se regular a haste da semicolcheia para ter a mesma medida vertical que a da colcheia (mínimo detalhe que no final faz muita diferença em termos de estética). A fonte de posições para violão continua limitada aos acordes básicos. Quando vi que a Coda não passaria daqueles poucos já feitos, passei a construir os meus próprios braços de violão, que hoje somam 3.000 posições em True Type. A Coda já está ciente dessa minha empreitada, e, inclusive, mostrou-se muito interessada em incluí-las nas novas versões do Finale. Agora é aguardar. 

O Finale gera e lê midifiles. Assim, pode-se importar uma execução feita em um sequenciador externo e editar a partitura. Não espere que tudo venha prontinho, pois este milagre não existe. Nenhum programa tem como interpretar o valor exato das figuras executadas por um músico. Isso deve-se ao fato de que, ao executar um instrumento, nunca tocamos o valor exato de cada figura, até porque o tempo de permanência pressionando uma nota depende das características de sustain do próprio instrumento, sem contar que os tecladistas, por exemplo, fazem uso do pedal de sustain constantemente. Como pode um programa de notação analisar estas situações e atribuir as devidas diferenças? Esse é o principal motivo que torna impraticável programas de notação mostrarem partituras precisas automaticamente, geradas a partir da execução humana. Quando aquele seu amigo metido a entendido lhe falar de um programa KXYZX10020 da Tal e Tal Technology, que produz partitura automaticamente, simplesmente responda: ah, é mesmo!?

Um atributo exclusivo do Finale que poderia, inclusive, tornar-se um slogan é: “tudo que se vê pode ser editado”. É verdade, tudo que aparece na tela pode ser modificado de acordo com as exigências de cada usuário: ponto de aumento, ligadura de nota (tie) ou de expressão (slur), articulações, sinais de expressão e dinâmica, posição de sílabas de uma letra, gráficos, cifras, claves de aviso, tipologia das notas, enfim, tudo que existe na linguagem musical. Cada elemento pode ser acoplado à uma nota ou à um compasso. A grande vantagem aqui, é que os elementos não ficam “voadores” como na maioria dos programas de notação, logo, quando modifica-se, por exemplo, o número de compassos em uma pauta, os símbolos amarrados às notas continuam alinhados. O Finale trata esses elementos como entradas de informações acopladas (e não simplesmente como gráficos aleatórios), e podem ser direcionadas para qualquer evento de MIDI, como volume, vibrato, bend, etc. Que tal tocar no seu teclado com diferentes intensidades e o programa lançar automaticamente os sinais de pianíssimo, piano, forte, etc., acoplados às notas? Coisas do Finale!

Updates da versão 97

A versão 97 (IBM) encontra-se disponível para Win 3.1 e para Win 95 32-bit. No ambiente de 32bit, acabou a limitação do nome de arquivos com no máximo oito letras (usuários de Mac, podem rir). Todo o funcionamento do programa ficou sensivelmente mais ágil, ao passo que nenhuma implementação considerável foi feita em relação ao sequenciador - que já havia sido melhorado na versão 3.5 -, ou seja, continua sendo um programa específico para criar partituras. Por falar no assunto, nenhum bom programa de partitura é um bom sequenciador, e vice-versa. Não existe ainda esse esperado tudo em um.

Agora, todas as teclas do computador podem ser usadas para criar Metatools (macros), acabando a limitação de somente oito. Em termos práticos, é muito mais rápido trabalhar com o teclado do computador do que com o mouse, principalmente para aqueles, que, como eu, têm utilizado a informática desde o tempo do DOS.

É interessante observar que a versão 97, apesar de ter adicionado algumas funções especiais (plug-ins que serão descritos a seguir), ficou significativamente mais simples de operar. Esta preocupação em simplificar tem sido uma característica forte da Coda desde a versão 3.0. Aqueles que tinham medo do Finale podem se tranquilizar pois o programa atualmente é muito amigável e dá um retorno muito rápido quando se trata de produzir partituras simples para registro ou ensaio.

Apesar de não ter sido mencionado em texto algum, já foi solucionado o problema que ocorria em ítens como os números dos Layers e no Bracket Options, que ficavam completamente escuros quando selecionados, impossibilitando a visão do conteúdo. Também, agora, o Undo atua nas edições feitas com a ferramenta de texto.

Plug-ins – a Coda entra em uma nova era, aderindo à filosofia de uma arquitetura mais aberta, proporcionando que programadores externos (third parties) produzam adenduns que podem ser acoplados ao Finale em forma de plug-ins. Em meus testes, os mais significativos foram: Tablatura Automática (já descrita) e Extensão de Palavras Automática. Extensão de palavras são linhas horizontais aplicadas logo após uma sílaba da letra, quando a mesma é sustentada durante notas iguais ligadas ou durante um melisma (notas diferente ligadas). Esta função automática apresentou um pequeno problema: quando encontra um hífem, o mesmo é considerado um caracter, e assim, não é lançada uma extensão. Com certeza, esse recurso foi implementado apenas para utilização em melismas. Fica aqui, mais uma sugestão para a Coda: o caracter do hífem deveria ser analisado de forma especial e excluído da lista de entradas, para que a extensão de palavra automática funcionasse entre figuras ligadas que possuíssem separação de sílaba, o que é muito comum em partituras que possuem letra em língua portuguesa.

Ties (ligaduras de nota) – há muito eu já vinha reportando à Coda os problemas causados pela impossibilidade de se modificar as características dos ties. Finalmente, agora o contrôle é total, como já havia sido implementado nos slurs (ligaduras de expressão). Pode-se regular as características de forma global ou particular. Ao clicar em um tie, abre-se mais um handle (marca de entrada de edição) que proporciona amoldar seu arco, ponto de início e de final. Agora é muito fácil limpar esbarrões de ligaduras quando se está trabalhando com várias vozes em uma única pauta. Outras melhorias são: ajuste de medida horizontal de ties que aparecem no início de um sistema, e quebra de ties quando há mudança de compasso ou de tonalidade. Ao se converter arquivos de versões anteriores para a 97, é necessário fazer pequenos ajustes na regulagem geral dos ties, já que a nova versão trata o assunto de forma bem diferente. Após três horas de testes, achei as medidas ideiais para que as ligaduras de notas fiquem perfeitas. Assim, nunca mais será necessário afastar notas ligadas para que suas ligaduras apareçam bem definidas. Este era um ponto crítico, que finalmente foi solucionado. Parabéns Coda, por ouvir seus usuários, mesmo que com um certo atrazo!

Page View Size (tamanho da página mostrada na tela) – Passou a ser regulado de forma mais lógica: control 1, 5 e 7 regulam em tamanho total, 50% e 75%.

Mass Edit Spacement (espaçamento entre símbolos musicais) – agora inclui também o ítem Minimum Distance Between Notes With Ties, ou seja, é possível regular a medida mínima entre as notas que estão ligadas por ties. Na prática, o funcionamento dependerá de quantos compassos estão sendo alocados para cada pauta. Passei a trabalhar com o valor de 0,25 no caso de uma pauta repleta de semicolcheias, contendo quatro compassos.

Count Itens (contador de ítens) – calcula o número de ítens importantes de cada música, tais como: compassos, notas, pausas, quiálteras, acordes, apogiaturas, etc. Possibilita um contrôle total de quanto tempo se gasta para executar determinados trabalhos e fazer, assim, um balanço geral de desempenho.

Easy Repeats (sinais de repetição automáticos) – agora é só marcar uma região e assinalar quantos compassos farão parte da casa 1 ou 2. Pronto, o programa lança automaticamente os ritornelos, o arco da casa e o número entrado.

Entrada de notas

Escreve-se partituras no Finale de cinco formas diferentes:

Speed Entry (via teclado musical) - toca-se no teclado musical o acorde ou nota que se quer entrar, e simultaneamente no teclado do computador, a tecla correspondente ao valor da figura rítmica (teclas 1 a 7). Ao meu ver, é a forma mais segura de trabalhar, onde a margem de êrro é mínima em função da velocidade que proporciona após um tempo de três meses trabalhando dessa forma.

Speed Entry (via teclado do computador) - para quem não tem teclado musical ou placa MIDI instalada. Cada nota corresponde à uma tecla do computador, e as figuras rítmicas são assinaladas através dos números de 1 a 7. É um dos métodos preferidos pelos copistas profissionais que trocaram a caneta pelo computador, sendo que, entrar com acordes complexos é um processo lento.  

Simple Entry (via mouse) - clica-se em uma figura rítmica do menu e insere-se diretamente na pauta. Alguns usuários se aperfeiçoaram nesta técnica que proporciona margem de erro muito baixa, já que cada símbolo é checado enquanto é aplicado. Não é muito prática para uso profissional, mas extremamente amigável. Compõe-se a partitura como se estivesse desenhando.

HyperScribe (via sequenciamento) - o HyperScribe é o sequenciador do Finale. Grava-se uma execução enquanto o mesmo a converte em partitura automaticamente. Depois, é só editar o que o programa entendeu da execução. Deve-se, de preferência, executar as figuras rítmicas com precisão, quase que roboticamente, para evitar muitas edições.

Via MIDIFiles - O Finale importa MIDIFiles sequenciados em qualquer programa, mas, novamente, não faz milagres. Um arquivo gravado sem precisão se tornará uma partitura desastrosa! Utilizo a técnica de tocar para um sequenciador, limpar esbarrões, separar vozes, editar durações das figuras e depois carrego este arquivo no Finale, o que proporciona ótimos resultados.

Entrada de letra

Pode-se escrever diretamente em baixo de cada nota ou entrar a letra inteira (com hífens, espaços e ligaduras de sílabas) diretamente no quadro de entrada de texto, e posteriormente, clicar nas nota que receberão as sílabas em questão. É possível adicionar quantas linhas de letras e estilos de fonte forem necessários. Para evitar esbarrões entre as sílabas, tecla-se o número 4 e simultaneamente clica-se duas vezes no botão esquerdo do mouse. Isto faz com que o espaçamento automático evite colisões entre diversos elementos da partitura (quando o respectivo Allotment estiver carregado).

Exportação e importação de gráficos

Além da exportação de partituras em post script, a versão 97 possibilita a criação e exportação de arquivos TIFF (Windows) e PICT (Macintosh). Pequenos trechos ou páginas inteiras podem ser aplicadas e visualizadas em processadores de texto que suportem estes formatos. Se você estiver encontrando problemas com a exportação de EPS (Encapsulated Post Script), poderá passar a utilizar o TIFF (até 1200 pontos de resolução). EPS continua sendo uma área crítica do programa pois depende de diversos fatores da linguagem post script (Adobe) e de drivers de impressoras post script fornecidos pelos fabricantes de software ou pela Microsoft.

Desde a versão 3.5, tenho travado uma verdadeira batalha com a Coda para que a impressão em post script seja transparente como era até a versão 3.0. Nem sempre é possível imprimir em post script com as fontes True Type incluídas no documento. Sem fontes True Type incluídas, não há problema.

Entrada de texto

Na versão 97, os títulos, copyright ou blocos de informações são criados e editados pela ferramenta Text Tool.

Na versão 3.7 havia um bug quando se entrava texto em Page View: o ponto de inserção de texto deslizava para cima até desaparecer. Agora já foi solucionado.

Todas as fontes a serem utilizadas por tudo que depende de caracteres, podem ser configuradas como default no Menu / Options / Select Default Fonts, sendo que, para modificar a fonte do texto de forma particular, basta marcar o texto em questão e mudar a fonte da lista que se abre. A partir da versão 3.7 pode-se entrar quantos caracteres quiser, com diferentes fontes misturadas.

Entrada de cifras

É possível entrar as cifras escrevendo diretamente na partitura, e o programa acoplará automaticamente, o símbolo equivalente (após ter sido programado). Criar cifras bem alinhadas, é uma tarefa complicada, pois nem sempre o resultado mostrado no monitor é o mesmo que o impresso. Na notação das cifras do sistema brasileiro, cada dissonância é descrita, o que torna ainda mais difícil de alinhar. Para que os novos usuários do Finale não tenham o cansativo trabalho de programar um bom grupo de cifras, disponibilizei na minha home page (seção Cifras), o que construí e venho utilizando há muitos anos. Estas cifras foram tiradas do Dicionário de Acordes Para Piano e Teclados, que abrange todas as possibilidades.

O Finale possibilita diversas outras formas de entrar com cifras. Um dos métodos que utilizo muito é o de tocar um acorde no teclado, deixando que o programa lance automaticamente a cifra correspondente (uma das exclusividades do Finale!).

Extração de partituras

Com o Finale, é possível extrair as partes individuais de uma grade de orquestra, o que facilita a produção de partes cavadas (individuais). Todos os símbolos, repetições e tempos de espera são refletidos, bastando apenas edições finais na diagramação. O macête para não ter que refazer a diagramação de cada parte cavada é criar um padrão para onde serão enviadas as partes extraídas.

No final de 1997, produzi as partituras de orquestra e partes individuais para as gravações das músicas que Francis Hime compôs exclusivamente para os filmes a serem veiculados no Parque Temático - Terra Encantada. Foram sete músicas somando o total de 40.000 compassos. Eu já havia sequenciado praticamente todos os instrumentos de cada música e mixado tudo para DAT. Foi uma mixagem infeliz, pelo fato de que na última hora exigiram sinal de sync (SMPTE) em um canal separado, e, não encontrei no Rio o DAT Teac que utiliza uma pequena faixa da fita para gravar só sync. Como incluir SMPTE separado em uma mídia que só possui 2 canais? Aí vem a parte triste da história: todo meu trabalho de quarenta dias selecionando, programando e sequenciando instrumentos orquestrais MIDI em estéreo, utilizando reverbers em estéreo, echoes em estéreo, percussões em estéreo, enfim, tudo em estéreo, foi reduzido para MONO. Verdade: tive que mixar em mono! SMPTE na esquerda, música na direita. Mas como a fita só seria usada como base (maquete) para a elaboração dos filmes em Paris, acabei me conformando e mandei para lá dessa forma. Nossa idéia nunca fora de utilizar o trabalho de sintetizadores e samplers como produto final, mas como uma base sólida de climas, temas e, principalmente, tempos para que o filme fosse feito em cima da trilha. É que em estéreo, dava o maior prazer de ouvir.

Posteriormente, preparei outra fita DAT, contendo um click bem sólido de cowbell de um lado e maquete do outro, e passei essa fita para o Sonic Solutions de 16 canais (pilotado pelo mestre Carlão). O cowbell foi endereçado somente para o fone do Francis Hime, que conduziu a orquestra. Dessa forma, a orquestra completa gravou nos tempos determinados pela gravação previamente sequenciada via MIDI.

Voltando às partituras, eu desejava reduzir o tempo de trabalho, aproveitando as execuções de cada instrumento que eu havia sequenciado, mas, como já desconfiava, não foi possível. Mais uma vez confirmei minha teoria: “é para fazer partitura depois? Toque como robô”. Acabei aproveitando somente as notas de algumas músicas, mas 80% foi entrado do zero, via Speed Entry com teclado musical. Com as partituras de maestro (grades) prontas e revisadas, passei aproximadamente um mês trabalhando de forma muito eficiente nas individuais, utilizando o recurso de extração de partituras. Sem a informática, seriam necessários três copistas trabalhando durante dois mêses, principalmente pelo fato de que os instrumentos transpositores tiveram que ser ajustados e, algumas “modificaçõezinhas” inevitáveis de última hora, foram solicitadas.       

Ajuste das janelas de ferramentas

Os grupos de ferramentas podem ser colocados em qualquer posição da tela, proporcionando assim, maior visualização da partitura. Também, as ferramentas de um determinado grupo podem ser posicionadas da forma mais conveniente. Até a versão 3.7, era possível gravar essas posições preferidas, mas na versão 97 encontrei um bug que não permite reconfigurar a posição das ferramentas dentro de um grupo e salvá-la no preferences. Outro problema: quando o programa abre com janela menor (tamanho atribuído pelo próprio Windows quando encontra programas já rodando em outras janelas), o posicionamento do Main Tool Palete é deslocado para cima à esquerda, ao invés de aparecer na posição salva no Preferences.

Régua e margens

Com estas implementações é possível localizar com exatidão em que ponto da página está um determinado elemento. As medidas podem ser reguladas para centímetros, polegadas ou EVPUs (medida básica do Finale). Aguardo ainda, a implementação de guias posicionáveis como as do Page Maker, para que a diagramação seja mais ágil. Afinal, o Finale não é um programa de editoração?

Espaçamento da notação

Um problema crítico nos programas de notação é o espaçamento entre notas e símbolos musicais. Fazer partitura não é só dar entrada de notas, colocar o título e autores, como muitos pensam. Uma semínima não demanda o mesmo espaço na horizontal que um grupo de quatro semicolcheias. Neste ponto, a informática mal utilizada, anda produzindo trabalhos piores dos que os feitos à mão.

Existem verdadeiros tratados milenares a respeito do espaçamento correto para que a leitura seja agradável, e não um sacrifício.

O Finale proporciona diversos espaçamentos automáticos muito precisos, baseados nas convenções adotados pelos copistas e editores mais respeitados do mundo. Outros programas também oferecem opções de espaçamento, mas o resultado não é tão profissional quanto o do Finale, que calcula os espaços ideais, evitando colisões entre notas, cifras, letra de música, sinais de expressão e de dinâmica.

A partir de 1991, com a proliferação da tecnologia das impressoras laser, aumento de resolução dos monitores e melhoramentos nas fontes musicais, diversos fabricantes visualizaram o potencial do mercado de programas de notação, e iniciaram uma verdadeira batalha para ver quem ficaria com a maior fatia do mercado. A Coda - produtora do Finale - não se abalou muito com questões mercadológicas e partiu para concretizar definitivamente sua proposta: produzir o melhor programa do mercado, respeitando as regras básicas de espaçamento.

Compatibilidade

O Finale permite exportar arquivos em diversos formatos, facilitando o trabalho em conjunto com usuários de diferentes plataformas. Se um projeto for iniciado em Macintosh, poderá ser finalizado em PC e vice-versa. Atualmente, rodo rapidamente arquivos produzidos em Macs, se tiverem sido salvos em .ETF com emulação de PC. De qualquer forma, agora os músicos de todo o mundo trocam arquivos pela Internet, via e-mail, pagando ligação local, e não é mais necessário marcar hora para conectar, pois tudo fica guardado no servidor.

Impressão

Desde a versão 3.7 é possível escolher a impressora de dentro do programa. Muitos trabalhos são projetados para serem impressos em fotolito em um bureau que possua uma impressora post script, mas todos os testes têm que ser realizados em impressora caseira, antes de se enviar o arquivo final. Até a versão 3.5, era necessário ir ao Control Panel, Printers, trocar a impressora default, voltar para o Finale e imprimir. Muito vai e vem. O Finale foi um dos últimos programas a utilizar o recurso de escolha de impressora presente no Windows há pelo menos 18 meses.

Cada marca e modelo de impressora possui uma característica própria, no que toca à emissão de tinta, qualidade de impressão, resolução, etc. Uma partitura nunca terá as mesmas características quando impressa em diferentes impressoras. Um problema muito comum é a diferença da espessura de linhas, que em certos modelos são ideais mas em outros ficam muito finas ou muito grossas. Em raras situações isto pode ser solucionado a contento simplesmente utilizando recursos da impressora. Mas no Finale isto não é problema: tudo que se vê na tela pode ser configurado para uma impressão ideal, em sistemas caseiros ou em bureau (em post script direto para fotolito). Este é um dos pontos fortes do programa. Pode-se modificar individualmente a espessura das linhas da pautas, barras de compasso, hastes, ligaduras, etc.

O Finale não fica preso à utilização de apenas uma fonte musical. Se desejar incorporar novas fontes em suas partituras, recorra à Internet, onde várias True Types e Type1 estão disponíveis. Só o Finale possui regulagens especiais para lidar com novas fontes, de forma que as cabeças de notas fiquem sempre alinhadas com as hastes.

A solucionar

No Page Lay Out agora é necessário dois cliques nos handles para validar a operação, o que atraza o trabalho. Até a versão 3.7, bastava apenas um clique. De modo geral, é aconselhável a utilização de mouse com três botões, regulando o do meio para função de duplo clique. 

Ligaduras entre compassos de óssia ficam perdidas quando converte-se um arquivo de uma versão anterior à 97.

Infelizmente, e, apesar de várias reclamações, a função Allow Redraw Interrupt a partir da versão 3.7.2 passou a atuar também na região do scroll bar, o que é um êrro. No meu caso, que prefiro mudar as regiões de visualização por intermédio do scroll bar ao invés de usar o Hand Grabber Tool, para cada dois cliques no scroll bar, um aciona o Redraw Interrupt. Logo, a antiga rapidez de movimento na área do scroll bar não é mais possível.

O Finale sempre foi um programa caro, mas, em contrapartida, possuía manuais poderosos e muito bem elaborados, nos quais tirava-se qualquer dúvida rapidamente por intermédio de diversas formas de busca. Agora, com a versão 97, é fornecido apenas o Reference Manual, o que deve ter contribuído para redução do prêço do produto. Os famosos e eficientes “catálogos telefônicos” que acompanhavam o programa foram convertidos em arquivos .PDF, que podem ser visualizados com o Adobe Acrobat Reader (fornecidos juntamente com o CDROM de instalação do programa). Ainda estou me acostumando com a mudança, mas, de início, não me agrada a idéia de ler o manual na tela do computador ou de absorver a despesa da impressão do manual em .PDF. Me parece que a proposta da Coda é de que só se deve imprimir o tópico que interessa, tornando dispensável guardar o resto. Aliás, essa é uma estratégia adotada não só pela Coda. Tenho lido manuais de outros programas em .PDF, tanto que já tinha o reader instalado há muitos anos. O benefício da busca de informação em um arquivo PDF é que quase tudo no texto é “linkado”, abrindo novas possibilidades de pesquisa, pois um tópico leva à outro também relevante. Talvez seja simplesmente uma questão de adaptação ao novo método, mas, sem dúvida, os novos usuários sentirão falta de um bom manual para ler antes de dormir, a não ser que queiram imprimir 1000 páginas e mandar encadernar, ou então, colocar um computador na mesa de cabeceira e aturar aquele olhar atravessado da mulher.

Conclusão

Em termos de recursos, possibilidade de manipulação de eventos e precisão na diagramação, o Finale sempre esteve muito à frente de seus concorrentes.

A versão 97 é bem amigável, não provoca mais aquela sensação de medo mas continua exigindo muita aplicação e estudo, mas nunca solitário, pois o usuário de Finale em qualquer plataforma não fica isolado: a Coda tem presença significativa na Internet.

Dúvidas e discussões com o suporte ou com usuários de Finale são acessadas via Finale Support, Finale Forum ou news groups de MIDI. Os pequenos upgrades de manutenção podem ser pegos por modem (sem custo) e os mais significativos podem ser encomendados à Quanta (representante oficial no Brasil) que está sempre de prontidão.

Bom estudo, bom trabalho e sucesso com suas partituras.

 

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