Análise
do programa de notação musical Finale 97 (Coda Music Technology)
Revista
Música & Tecnologia, nº
66,
abril de 1998.
Introdução
Há exatamente um ano, analisei o
programa Finale versão 3.7 na revista M&T nº 58 (fevereiro de
1997). Todos os tópicos importantes foram descritos, formando um
mini-tratado aprofundado e prático, o qual, para meu espanto, gerou várias
correspondências de usuários espalhados por todo o país.
É sabido que este programa tem fama
de complicado, o que faz com que os possíveis interessados recorram
aos seus concorrentes mais simples - e ineficientes. Foi gratificante
saber que já existia no Brasil, um grupo de persistentes sofredores,
investindo no Finale, e que, principalmente, novos usuários foram
arrebatados para o clube, após a matéria. Desde 1991, quando comecei
a estudar o programa (em Copenhagen na Dinamarca), venho reparando que
ser usuário e conhecedor do Finale, cria uma certa distinção no
mercado da música informatizada. Após alguns anos de resistência,
muitos músicos no Brasil chegaram à mesma conclusão, e assim, o
clube encontra-se em plena expansão.
Venho utilizando profissionalmente
este programa desde a versão 2.0 e a partir de um ano inteiro de uso,
passei a dominá-lo. Verdade seja dita: não é um programa fácil de
aprender e de dominar. No princípio, é como tentar levantar vôo com
um Concord, sem nunca ter pilotado sequer um Cesna. Muitos decidem
começar pelo Encore (programa de notação mais fácil), mas essa tática
não contribui muito para formar uma base sólida, já que, nessa área,
os programas operarem de formas bem distintas. O Encore como um
degrau, serve no máximo para se aprender a linguagem da música
escrita que, diga-se de passagem, é vastíssima. Sem querer iniciar
uma discussão do tipo IBM x Mac, o Encore é um programa sem
recursos, se comparado com o Finale. Nos meus workshops, costumo dizer
que o Encore é o Write (do Windows 3.1), enquanto que o Finale é o
Word 7.0. É claro que tal afirmação provoca reações de muita
raiva! Certa vez, logo ao iniciar um workshop, mencionei o Finale como
sendo o melhor programa de notação musical, e subitamente um aluno
me interrompeu: - E o Encore, não é um bom programa? Prontamente
respondi: - senhores, estamos aqui reunidos para estudar programas de
verdade. É claro, o sujeito ficou indignado… Para não dar impressão
de que sou radical, gosto do Encore tocando as partituras em Page View
(visão de página). Este é um bom recurso quando é necessário
fazer uma demonstração para um cliente.
Os motivos principais dessa nova análise,
é de rever o funcionamento geral do Finale; atualizar informações a
respeito de recursos que foram aprimorados e abordar as novidades
implementadas na versão 97. Os interessados na primeira análise (da
versão 3.7), podem requerer o exemplar nº 66 na própria M&T.
Aqui, o leitor encontrará diversas comparações com versões
anteriores, proporcionando assim, uma visão da sua evolução lenta,
mas eficaz.
Geralmente, ao fazer uma análise,
começo lendo os manuais, read me files, helps, etc. Em seguida passo
para o teste das funções, uma a uma. Mas como o tempo anda raro,
resolvi adotar uma nova estratégia: enquanto trabalhava, anotei todas
as novidades e recursos principais. Assim, essa análise foi
desenvolvida pararelamente com a editoração dos song-books do Beto
Guedes, dos Mutantes e do Victor Biglione. Esse último, foi a razão
que me levou a fazer o update da versão 3.7 para a 97.
Na verdade, o livro de melodias
cifradas do Victor Biglione já estava pronto para entrar na gráfica
quando recebi um telefonema do editor: - Luciano, que tal incluirmos
tablatura nesse trabalho, já que trata-se de um livro de guitarra?
Foi um susto! Imagine que você está com o seu CD que lhe custou seis
meses de gravações, mixagem e masterização, pronto para ir para a
fábrica e a gravadora resolve fazer uma “modificaçãozinha”:
incluir percussão em todas as faixas!
Para solucionar o problema, ainda com
a versão 3.7, comecei preparando um método de trabalho onde eu não
levasse mais meio ano nesse livro. Para cada uma das 25 músicas incluídas,
criei a pauta de tablatura (tarefa árdua, onde apenas o mouse e a visão
não são suficientes, sendo aconselhável a edição por números, na
casa dos milímetros). Para associar cada nota da melodia com o número
do traste da tablatura seria necessário editar uma a uma. Foi quando
resolvi pesquisar no site da Coda e descobri que o Finale 97 não só
produzia os números automaticamente, como também, todas as linhas da
pauta de tablatura. Assim, descartei todos os arquivos que havia
criado pacientemente e recomecei do zero. Com a função de tablatura
automática, o trabalho que me tomaria 4 horas para cada música, foi
efetuado em 4 dias para um total de 25 músicas. Salvo pelo gongo - ou
melhor, pela Coda!
Revendo o Finale
Programa de notação musical com
sequenciador. Imprime partituras com saída sofisticada a nível de
publicação. Uma de suas características mais impressionantes é a
quantidade ilimitada de recursos, sendo que, quando é necessário
incluir algum símbolo que não tenha no programa, é só criá-lo no
Editor Gráfico embutido. Com o tempo, repara-se que muitas funções
podem ser acessadas e processadas de várias formas diferentes. Cada
usuário direcionará sua forma de operar, da maneira que lhe for mais
conveniente.
Roda tranquilamente em máquinas 486
com Win 3.1, sendo recomendável no mínimo um Pentium 60 MHz com Win
95 e placa de vídeo com 2 Mb. A velocidade da placa é fundamental
para trabalhos complexos de orquestra, onde muitos elementos são
mostrados em uma só página. Este teste foi realizado com um Pentium
MMX 200, com placa de vídeo de 2 Mb, e o programa rodou com
velocidade surpreendente, mesmo nas partituras mais densas. A versão
97 encontra-se disponível também para Mac.
O Finale trabalha com fontes Type 1
(Adobe) ou, de preferência, com as True Type (Microsoft). A atual
versão da font TT Petrucci que já vem com o programa, foi bem
aprimorada, sendo considerada a melhor fonte de símbolos musicais, de
acordo com o padrão italiano de notação musical. Opcionamente,
pode-se regular a haste da semicolcheia para ter a mesma medida
vertical que a da colcheia (mínimo detalhe que no final faz muita
diferença em termos de estética). A fonte de posições para violão
continua limitada aos acordes básicos. Quando vi que a Coda não
passaria daqueles poucos já feitos, passei a construir os meus próprios
braços de violão, que hoje somam 3.000 posições em True Type. A
Coda já está ciente dessa minha empreitada, e, inclusive, mostrou-se
muito interessada em incluí-las nas novas versões do Finale. Agora
é aguardar.
O Finale gera e lê midifiles. Assim,
pode-se importar uma execução feita em um sequenciador externo e
editar a partitura. Não espere que tudo venha prontinho, pois este
milagre não existe. Nenhum programa tem como interpretar o valor
exato das figuras executadas por um músico. Isso deve-se ao fato de
que, ao executar um instrumento, nunca tocamos o valor exato de cada
figura, até porque o tempo de permanência pressionando uma nota
depende das características de sustain do próprio instrumento, sem
contar que os tecladistas, por exemplo, fazem uso do pedal de sustain
constantemente. Como pode um programa de notação analisar estas
situações e atribuir as devidas diferenças? Esse é o principal
motivo que torna impraticável programas de notação mostrarem
partituras precisas automaticamente, geradas a partir da execução
humana. Quando aquele seu amigo metido a entendido lhe falar de um
programa KXYZX10020 da Tal e Tal Technology, que produz partitura
automaticamente, simplesmente responda: ah, é mesmo!?
Um atributo exclusivo do Finale que
poderia, inclusive, tornar-se um slogan é: “tudo que se vê pode
ser editado”. É verdade, tudo que aparece na tela pode ser
modificado de acordo com as exigências de cada usuário: ponto de
aumento, ligadura de nota (tie) ou de expressão (slur), articulações,
sinais de expressão e dinâmica, posição de sílabas de uma letra,
gráficos, cifras, claves de aviso, tipologia das notas, enfim, tudo
que existe na linguagem musical. Cada elemento pode ser acoplado à
uma nota ou à um compasso. A grande vantagem aqui, é que os
elementos não ficam “voadores” como na maioria dos programas de
notação, logo, quando modifica-se, por exemplo, o número de
compassos em uma pauta, os símbolos amarrados às notas continuam
alinhados. O Finale trata esses elementos como entradas de informações
acopladas (e não simplesmente como gráficos aleatórios), e podem
ser direcionadas para qualquer evento de MIDI, como volume, vibrato,
bend, etc. Que tal tocar no seu teclado com diferentes intensidades e
o programa lançar automaticamente os sinais de pianíssimo, piano,
forte, etc., acoplados às notas? Coisas do Finale!
Updates da versão 97
A versão 97 (IBM) encontra-se disponível
para Win 3.1 e para Win 95 32-bit. No ambiente de 32bit, acabou a
limitação do nome de arquivos com no máximo oito letras (usuários
de Mac, podem rir). Todo o funcionamento do programa ficou
sensivelmente mais ágil, ao passo que nenhuma implementação
considerável foi feita em relação ao sequenciador - que já havia
sido melhorado na versão 3.5 -, ou seja, continua sendo um programa
específico para criar partituras. Por falar no assunto, nenhum bom
programa de partitura é um bom sequenciador, e vice-versa. Não
existe ainda esse esperado tudo em um.
Agora, todas as teclas do computador
podem ser usadas para criar Metatools (macros), acabando a limitação
de somente oito. Em termos práticos, é muito mais rápido trabalhar
com o teclado do computador do que com o mouse, principalmente para
aqueles, que, como eu, têm utilizado a informática desde o tempo do
DOS.
É interessante observar que a versão
97, apesar de ter adicionado algumas funções especiais (plug-ins que
serão descritos a seguir), ficou significativamente mais simples de
operar. Esta preocupação em simplificar tem sido uma característica
forte da Coda desde a versão 3.0. Aqueles que tinham medo do Finale
podem se tranquilizar pois o programa atualmente é muito amigável e
dá um retorno muito rápido quando se trata de produzir partituras
simples para registro ou ensaio.
Apesar de não ter sido mencionado em
texto algum, já foi solucionado o problema que ocorria em ítens como
os números dos Layers e no Bracket Options, que ficavam completamente
escuros quando selecionados, impossibilitando a visão do conteúdo.
Também, agora, o Undo atua nas edições feitas com a ferramenta de
texto.
Plug-ins – a Coda entra em uma nova
era, aderindo à filosofia de uma arquitetura mais aberta,
proporcionando que programadores externos (third
parties) produzam adenduns que podem ser acoplados ao Finale em
forma de plug-ins. Em meus testes, os mais significativos foram:
Tablatura Automática (já descrita) e Extensão de Palavras Automática.
Extensão de palavras são linhas horizontais aplicadas logo após uma
sílaba da letra, quando a mesma é sustentada durante notas iguais
ligadas ou durante um melisma (notas diferente ligadas). Esta função
automática apresentou um pequeno problema: quando encontra um hífem,
o mesmo é considerado um caracter, e assim, não é lançada uma
extensão. Com certeza, esse recurso foi implementado apenas para
utilização em melismas. Fica aqui, mais uma sugestão para a Coda: o
caracter do hífem deveria ser analisado de forma especial e excluído
da lista de entradas, para que a extensão de palavra automática
funcionasse entre figuras ligadas que possuíssem separação de sílaba,
o que é muito comum em partituras que possuem letra em língua
portuguesa.
Ties (ligaduras de nota) – há muito
eu já vinha reportando à Coda os problemas causados pela
impossibilidade de se modificar as características dos ties.
Finalmente, agora o contrôle é total, como já havia sido
implementado nos slurs (ligaduras de expressão). Pode-se regular as
características de forma global ou particular. Ao clicar em um tie,
abre-se mais um handle
(marca de entrada de edição) que proporciona amoldar seu arco, ponto
de início e de final. Agora é muito fácil limpar esbarrões de
ligaduras quando se está trabalhando com várias vozes em uma única
pauta. Outras melhorias são: ajuste de medida horizontal de ties que
aparecem no início de um sistema, e quebra de ties quando há mudança
de compasso ou de tonalidade. Ao se converter arquivos de versões
anteriores para a 97, é necessário fazer pequenos ajustes na
regulagem geral dos ties, já que a nova versão trata o assunto de
forma bem diferente. Após três horas de testes, achei as medidas
ideiais para que as ligaduras de notas fiquem perfeitas. Assim, nunca
mais será necessário afastar notas ligadas para que suas ligaduras
apareçam bem definidas. Este
era um ponto crítico, que finalmente foi solucionado. Parabéns Coda,
por ouvir seus usuários, mesmo que com um certo atrazo!
Page
View Size (tamanho da página mostrada na tela) – Passou a ser
regulado de forma mais lógica: control 1, 5 e 7 regulam em tamanho
total, 50% e 75%.
Mass
Edit Spacement (espaçamento entre símbolos musicais) – agora
inclui também o ítem Minimum Distance Between Notes With Ties, ou
seja, é possível regular a medida mínima entre as notas que estão
ligadas por ties. Na prática, o funcionamento dependerá de quantos
compassos estão sendo alocados para cada pauta. Passei a trabalhar
com o valor de 0,25 no caso de uma pauta repleta de semicolcheias,
contendo quatro compassos.
Count
Itens (contador de ítens) – calcula o número de ítens importantes
de cada música, tais como: compassos, notas, pausas, quiálteras,
acordes, apogiaturas, etc. Possibilita um contrôle total de quanto
tempo se gasta para executar determinados trabalhos e fazer, assim, um
balanço geral de desempenho.
Easy
Repeats (sinais de repetição automáticos) – agora é só marcar
uma região e assinalar quantos compassos farão parte da casa 1 ou 2.
Pronto, o programa lança automaticamente os ritornelos, o arco da
casa e o número entrado.
Entrada de notas
Escreve-se
partituras no Finale de cinco formas diferentes:
Speed
Entry (via teclado musical) - toca-se no teclado musical o acorde ou
nota que se quer entrar, e simultaneamente no teclado do computador, a
tecla correspondente ao valor da figura rítmica (teclas 1 a 7). Ao
meu ver, é a forma mais segura de trabalhar, onde a margem de êrro
é mínima em função da velocidade que proporciona após um tempo de
três meses trabalhando dessa forma.
Speed
Entry (via teclado do computador) - para quem não tem teclado musical
ou placa MIDI instalada. Cada nota corresponde à uma tecla do
computador, e as figuras rítmicas são assinaladas através dos números
de 1 a 7. É um dos métodos preferidos pelos copistas profissionais
que trocaram a caneta pelo computador, sendo que, entrar com acordes
complexos é um processo lento.
Simple
Entry (via mouse) - clica-se
em uma figura rítmica do menu e insere-se diretamente na pauta.
Alguns usuários se aperfeiçoaram nesta técnica que proporciona
margem de erro muito baixa, já que cada símbolo é checado enquanto
é aplicado. Não é muito prática para uso profissional, mas
extremamente amigável. Compõe-se a partitura como se estivesse
desenhando.
HyperScribe
(via sequenciamento) - o HyperScribe é o sequenciador do Finale.
Grava-se uma execução enquanto o mesmo a converte em partitura
automaticamente. Depois, é só editar o que o programa entendeu da
execução. Deve-se, de preferência, executar as figuras rítmicas
com precisão, quase que roboticamente, para evitar muitas edições.
Via
MIDIFiles - O Finale importa MIDIFiles sequenciados em qualquer
programa, mas, novamente, não faz milagres. Um arquivo gravado sem
precisão se tornará uma partitura desastrosa! Utilizo a técnica de
tocar para um sequenciador, limpar esbarrões, separar vozes, editar
durações das figuras e depois carrego este arquivo no Finale, o que
proporciona ótimos resultados.
Entrada de letra
Pode-se
escrever diretamente em baixo de cada nota ou entrar a letra inteira
(com hífens, espaços e ligaduras de sílabas) diretamente no quadro
de entrada de texto, e posteriormente, clicar nas nota que receberão
as sílabas em questão. É possível adicionar quantas linhas de
letras e estilos de fonte forem necessários. Para evitar esbarrões
entre as sílabas, tecla-se o número 4 e simultaneamente clica-se
duas vezes no botão esquerdo do mouse. Isto faz com que o espaçamento automático evite colisões
entre diversos elementos da partitura (quando o respectivo Allotment
estiver carregado).
Exportação e importação de gráficos
Além
da exportação de partituras em post script, a versão 97 possibilita
a criação e exportação de arquivos TIFF (Windows) e PICT
(Macintosh). Pequenos trechos ou páginas inteiras podem ser aplicadas
e visualizadas em processadores de texto que suportem estes formatos.
Se você estiver encontrando problemas com a exportação de EPS
(Encapsulated Post Script), poderá passar a utilizar o TIFF (até
1200 pontos de resolução). EPS continua sendo uma área crítica do
programa pois depende de diversos fatores da linguagem post script
(Adobe) e de drivers de
impressoras post script fornecidos
pelos fabricantes de software ou
pela Microsoft.
Desde
a versão 3.5, tenho travado uma verdadeira batalha com a Coda para
que a impressão em post script seja transparente como era até a versão
3.0. Nem sempre é possível imprimir em post script com as fontes
True Type incluídas no documento. Sem fontes True Type incluídas, não
há problema.
Entrada de texto
Na
versão 97, os títulos, copyright
ou blocos de informações são criados e editados pela ferramenta
Text Tool.
Na
versão 3.7 havia um bug quando se entrava texto em Page View: o ponto
de inserção de texto deslizava para cima até desaparecer. Agora já
foi solucionado.
Todas
as fontes a serem utilizadas por tudo que depende de caracteres, podem
ser configuradas como default
no Menu / Options / Select Default Fonts, sendo que, para modificar a
fonte do texto de forma particular, basta marcar o texto em questão e
mudar a fonte da lista que se abre. A partir da versão 3.7 pode-se
entrar quantos caracteres quiser, com diferentes fontes misturadas.
Entrada de cifras
É
possível entrar as cifras escrevendo diretamente na partitura, e o
programa acoplará automaticamente, o símbolo equivalente (após ter
sido programado). Criar cifras bem alinhadas, é uma tarefa
complicada, pois nem sempre o resultado mostrado no monitor é o mesmo
que o impresso. Na notação das cifras do sistema brasileiro, cada
dissonância é descrita, o que torna ainda mais difícil de alinhar.
Para que os novos usuários do Finale não tenham o cansativo trabalho
de programar um bom grupo de cifras, disponibilizei na minha
home page (seção Cifras), o que construí e venho utilizando há
muitos anos. Estas cifras foram tiradas do Dicionário de Acordes Para
Piano e Teclados, que abrange todas as possibilidades.
O
Finale possibilita diversas outras formas de entrar com cifras. Um dos
métodos que utilizo muito é o de tocar um acorde no teclado,
deixando que o programa lance automaticamente a cifra correspondente
(uma das exclusividades do Finale!).
Extração de partituras
Com
o Finale, é possível extrair as partes individuais de uma grade de
orquestra, o que facilita a produção de partes cavadas
(individuais). Todos os símbolos, repetições e tempos de espera são
refletidos, bastando apenas edições finais na diagramação. O macête
para não ter que refazer a diagramação de cada parte cavada é
criar um padrão para onde serão enviadas as partes extraídas.
No
final de 1997, produzi as partituras de orquestra e partes individuais
para as gravações das músicas que Francis Hime compôs
exclusivamente para os filmes a serem veiculados no Parque Temático -
Terra Encantada. Foram sete músicas somando o total de 40.000
compassos. Eu já havia sequenciado praticamente todos os instrumentos
de cada música e mixado tudo para DAT. Foi uma mixagem infeliz, pelo
fato de que na última hora exigiram sinal de sync (SMPTE) em um canal
separado, e, não encontrei no Rio o DAT Teac que utiliza uma pequena
faixa da fita para gravar só sync. Como incluir SMPTE separado em uma
mídia que só possui 2 canais? Aí vem a parte triste da história:
todo meu trabalho de quarenta dias selecionando, programando e
sequenciando instrumentos orquestrais MIDI em estéreo, utilizando
reverbers em estéreo, echoes em estéreo, percussões em estéreo,
enfim, tudo em estéreo, foi reduzido para MONO. Verdade: tive que
mixar em mono! SMPTE na esquerda, música na direita. Mas como a fita
só seria usada como base (maquete) para a elaboração dos filmes em
Paris, acabei me conformando e mandei para lá dessa forma. Nossa idéia
nunca fora de utilizar o trabalho de sintetizadores e samplers como
produto final, mas como uma base sólida de climas, temas e,
principalmente, tempos para que o filme fosse feito em cima da trilha.
É que em estéreo, dava o maior prazer de ouvir.
Posteriormente,
preparei outra fita DAT, contendo um click bem sólido de cowbell de
um lado e maquete do outro, e passei essa fita para o Sonic Solutions
de 16 canais (pilotado pelo mestre Carlão). O cowbell foi endereçado
somente para o fone do Francis Hime, que conduziu a orquestra. Dessa
forma, a orquestra completa gravou nos tempos determinados pela gravação
previamente sequenciada via MIDI.
Voltando
às partituras, eu desejava reduzir o tempo de trabalho, aproveitando
as execuções de cada instrumento que eu havia sequenciado, mas, como
já desconfiava, não foi possível. Mais uma vez confirmei minha
teoria: “é para fazer partitura depois? Toque como robô”. Acabei
aproveitando somente as notas de algumas músicas, mas 80% foi entrado
do zero, via Speed Entry com teclado musical. Com as partituras de
maestro (grades) prontas e revisadas, passei aproximadamente um mês
trabalhando de forma muito eficiente nas individuais, utilizando o
recurso de extração de partituras. Sem a informática, seriam necessários
três copistas trabalhando durante dois mêses, principalmente pelo
fato de que os instrumentos transpositores tiveram que ser ajustados
e, algumas “modificaçõezinhas” inevitáveis de última hora,
foram solicitadas.
Ajuste das janelas de ferramentas
Os
grupos de ferramentas podem ser colocados em qualquer posição da
tela, proporcionando assim, maior visualização da partitura. Também,
as ferramentas de um determinado grupo podem ser posicionadas da forma
mais conveniente. Até a versão 3.7, era possível gravar essas posições
preferidas, mas na versão 97 encontrei um bug que não permite
reconfigurar a posição das ferramentas dentro de um grupo e salvá-la
no preferences. Outro problema: quando o programa abre com janela
menor (tamanho atribuído pelo próprio Windows quando encontra
programas já rodando em outras janelas), o posicionamento do Main
Tool Palete é deslocado para cima à esquerda, ao invés de aparecer
na posição salva no Preferences.
Régua e margens
Com
estas implementações é possível localizar com exatidão em que
ponto da página está um determinado elemento. As medidas podem ser
reguladas para centímetros, polegadas ou EVPUs (medida básica do
Finale). Aguardo ainda, a implementação de guias posicionáveis como
as do Page Maker, para que a diagramação seja mais ágil. Afinal, o
Finale não é um programa de editoração?
Espaçamento da notação
Um
problema crítico nos programas de notação é o espaçamento entre
notas e símbolos musicais. Fazer partitura não é só dar entrada de
notas, colocar o título e autores, como muitos pensam. Uma semínima
não demanda o mesmo espaço na horizontal que um grupo de quatro
semicolcheias. Neste ponto, a informática mal utilizada, anda
produzindo trabalhos piores dos que os feitos à mão.
Existem
verdadeiros tratados milenares a respeito do espaçamento correto para
que a leitura seja agradável, e não um sacrifício.
O
Finale proporciona diversos espaçamentos automáticos muito precisos,
baseados nas convenções adotados pelos copistas e editores mais
respeitados do mundo. Outros programas também oferecem opções de
espaçamento, mas o resultado não é tão profissional quanto o do
Finale, que calcula os espaços ideais, evitando colisões entre
notas, cifras, letra de música, sinais de expressão e de dinâmica.
A
partir de 1991, com a proliferação da tecnologia das impressoras
laser, aumento de resolução dos monitores e melhoramentos nas fontes
musicais, diversos fabricantes visualizaram o potencial do mercado de
programas de notação, e iniciaram uma verdadeira batalha para ver
quem ficaria com a maior fatia do mercado. A Coda - produtora do
Finale - não se abalou muito com questões mercadológicas e partiu
para concretizar definitivamente sua proposta: produzir o melhor
programa do mercado, respeitando as regras básicas de espaçamento.
Compatibilidade
O
Finale permite exportar arquivos em diversos formatos, facilitando o
trabalho em conjunto com usuários de diferentes plataformas. Se um
projeto for iniciado em Macintosh, poderá ser finalizado em PC e
vice-versa. Atualmente, rodo rapidamente arquivos produzidos em Macs,
se tiverem sido salvos em .ETF com emulação de PC. De qualquer
forma, agora os músicos de todo o mundo trocam arquivos pela
Internet, via e-mail, pagando ligação local, e não é mais necessário
marcar hora para conectar, pois tudo fica guardado no servidor.
Impressão
Desde
a versão 3.7 é possível escolher a impressora de dentro do
programa. Muitos trabalhos são projetados para serem impressos em
fotolito em um bureau que possua uma impressora post script, mas todos
os testes têm que ser realizados em impressora caseira, antes de se
enviar o arquivo final. Até a versão 3.5, era necessário ir ao
Control Panel, Printers, trocar a impressora default,
voltar para o Finale e imprimir. Muito vai e vem. O Finale foi um dos
últimos programas a utilizar o recurso de escolha de impressora
presente no Windows há pelo menos 18 meses.
Cada
marca e modelo de impressora possui uma característica própria, no
que toca à emissão de tinta, qualidade de impressão, resolução,
etc. Uma partitura nunca terá as mesmas características quando
impressa em diferentes impressoras. Um problema muito comum é a
diferença da espessura de linhas, que em certos modelos são ideais
mas em outros ficam muito finas ou muito grossas. Em raras situações
isto pode ser solucionado a contento simplesmente utilizando recursos
da impressora. Mas no Finale isto não é problema: tudo que se vê na
tela pode ser configurado para uma impressão ideal, em sistemas
caseiros ou em bureau (em post script direto para fotolito). Este é um dos pontos fortes do
programa. Pode-se modificar individualmente a espessura das linhas da
pautas, barras de compasso, hastes, ligaduras, etc.
O
Finale não fica preso à utilização de apenas uma fonte musical. Se
desejar incorporar novas fontes em suas partituras, recorra à
Internet, onde várias True Types e Type1 estão disponíveis. Só o
Finale possui regulagens especiais para lidar com novas fontes, de
forma que as cabeças de notas fiquem sempre alinhadas com as hastes.
A solucionar
No
Page Lay Out agora é necessário dois cliques nos handles para
validar a operação, o que atraza o trabalho. Até a versão 3.7,
bastava apenas um clique. De modo geral, é aconselhável a utilização
de mouse com três botões, regulando o do meio para função de duplo
clique.
Ligaduras
entre compassos de óssia ficam perdidas quando converte-se um arquivo
de uma versão anterior à 97.
Infelizmente,
e, apesar de várias reclamações, a função Allow Redraw Interrupt
a partir da versão 3.7.2 passou a atuar também na região do scroll
bar, o que é um êrro. No meu caso, que prefiro mudar as regiões de
visualização por intermédio do scroll bar ao invés de usar o Hand
Grabber Tool, para cada dois cliques no scroll bar, um aciona o Redraw
Interrupt. Logo, a antiga rapidez de movimento na área do scroll bar
não é mais possível.
O
Finale sempre foi um programa caro, mas, em contrapartida, possuía
manuais poderosos e muito bem elaborados, nos quais tirava-se qualquer
dúvida rapidamente por intermédio de diversas formas de busca.
Agora, com a versão 97, é fornecido apenas o Reference Manual, o que
deve ter contribuído para redução do prêço do produto. Os famosos
e eficientes “catálogos telefônicos” que acompanhavam o programa
foram convertidos em arquivos .PDF, que podem ser visualizados com o
Adobe Acrobat Reader (fornecidos juntamente com o CDROM de instalação
do programa). Ainda estou me acostumando com a mudança, mas, de início,
não me agrada a idéia de ler o manual na tela do computador ou de
absorver a despesa da impressão do manual em .PDF. Me parece que a
proposta da Coda é de que só se deve imprimir o tópico que
interessa, tornando dispensável guardar o resto. Aliás, essa é uma
estratégia adotada não só pela Coda. Tenho lido manuais de outros
programas em .PDF, tanto que já tinha o reader instalado há muitos
anos. O benefício da busca de informação em um arquivo PDF é que
quase tudo no texto é “linkado”, abrindo novas possibilidades de
pesquisa, pois um tópico leva à outro também relevante. Talvez seja
simplesmente uma questão de adaptação ao novo método, mas, sem dúvida,
os novos usuários sentirão falta de um bom manual para ler antes de
dormir, a não ser que queiram imprimir 1000 páginas e mandar
encadernar, ou então, colocar um computador na mesa de cabeceira e
aturar aquele olhar atravessado da mulher.
Conclusão
Em
termos de recursos, possibilidade de manipulação de eventos e precisão
na diagramação, o Finale sempre esteve muito à frente de seus
concorrentes.
A
versão 97 é bem amigável, não provoca mais aquela sensação de
medo mas continua exigindo muita aplicação e estudo, mas nunca solitário,
pois o usuário de Finale em qualquer plataforma não fica isolado: a
Coda tem presença significativa na Internet.
Dúvidas
e discussões com o suporte ou com usuários de Finale são acessadas
via Finale Support, Finale Forum ou news
groups de MIDI. Os pequenos upgrades
de manutenção podem ser pegos por modem (sem custo) e os mais
significativos podem ser encomendados à Quanta (representante oficial
no Brasil) que está sempre de prontidão.
Bom
estudo, bom trabalho e sucesso com suas partituras.
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