Análise
do programa de notação musical Finale 3.7 (Coda Music Technology)
Revista
Música & Tecnologia, nº
58,
fevereiro de 1997.
Introdução
Historiadores
comprovaram a existência de verdadeiros hieróglifos, como sendo a
primeira forma de anotar música, em tempos muito remotos. A partir do
século III, foi adotado o sistema de notação denominado
"neumas", constituído de sinais que representavam um grupo
de sons os quais seguiam o contorno melódico da voz. Esta forma foi
utilizada até o século X, quando Hucbald, monge de Flandres, teve a
idéia de anotar símbolos em uma pauta.
No
século XI, o monge Guido d'Arezzo fixou em quatro, o número de
linhas da pauta (até hoje mantido no canto gregoriano). No século
XII, nasceu a notação quadrada, e no fim do século XIV, com Filipe
de Vitry, a notação vermelha que foi substituída no século XV pela
branca, proposta pelos teóricos Francon de Colônia e Walter
Odington. Este método, que foi aprimorado e fixado definitivamente no
século XVIII, sob o reinado de Luís XIV, é muito parecido com a
notação atual, o qual utiliza sete sinais de valores relativos, com
suas respectivas pausas.
Independente
da época ou forma, e apesar do advento dos meios eletrônicos (gravação,
rádio transmissão, disco, etc.), a notação musical sempre foi um método
muito eficiente para registrar, ensinar, propagar e perpetuar a música.
Escrever partituras não requer somente o aprendizado dos símbolos,
mas também um árduo treino de caligrafia para que estes sejam
facilmente legíveis à primeira vista. Devido à esta necessidade,
nasceu a profissão de copista - o especialista que transforma
"rabiscos" (geralmente indecifráveis) do arranjador ou do
compositor, em notação musical, por intermédio de ferramentas quase
em extinção: papel, caneta e borracha.
A
entrada da informática na confecção de partituras criou um novo
paradigma: Qualquer músico pode ser um bom copista. Pode, mas
dificilmente é! Ter boa caligrafia não é mais o problema, pois quem
escreve é a impressora; mas por outro lado, há muito o que estudar
sobre
programas, fontes, impressão, MIDI, sem falar no custo de
equipamento para que se produza trabalhos do mesmo nível ou melhores
que os feitos por métodos convencionais (caneta, decalque, etc.).
Um
bom programa de notação é aquele que efetua qualquer operação,
sem limitações, já que a própria escrita musical é ilimitada,
principalmente quando se entra no campo da música eletro-acústica e
aleatória.
Este
programa especial e poderoso tem um nome: Finale.
O
Finale oferece milhares de possibilidades, mas para efeito de análise,
mostrarei as mais relevantes. Volta e meia, incluirei opiniões e críticas,
baseadas na minha experiência de seis anos utilizando este programa
diariamente. A estratégia mais fácil seria traçar uma comparação
com o programa Encore (Passaport) - o mais utilizado para notação -
mas estes programas, apesar de servirem ao mesmo propósito, são
incomparáveis. Partitura computadorizada para publicação, sem
limites, é sinônimo de Finale.
Somente
a partir do lançamento do Windows 3.0 e do Finale 2.0, no início da
década de 90, é que se tornou viável a utilização da informática
para publicação de livros de música com resultados satisfatórios.
As fontes de impressão e de tela Type1 - Petrucci (da Coda) e Sonata
(da Adobe) - foram aprimoradas de forma que profissionais passaram a
imprimir em casa, sem depender de bureau.
Há que se dar o devido crédito também, ao aumento de resolução
dos monitores e das impressoras que possibilitam visualizar e imprimir
símbolos musicais sem distorções.
Os
pontos críticos da notação musical são: a variedade de símbolos
contendo curvas e, principalmente, as ligaduras, que até 1990
apareciam na tela e eram impressas muito serrilhadas (aliasing). Nenhum editor trocaria sua produção de partituras com
decalques, pelo meio mais moderno que produzisse ligaduras e notas
serrilhadas. Com as impressoras passando a imprimir em 300 e 600
pontos, e os programas permitindo regulagem da espessura e terminação
de ligaduras, praticamente todas as editoras adotaram esta nova forma
de produção, abandonando as tradicionais.
No
meio da música informatizada, o Finale é muito conhecido, respeitado
e até temido, mas não o mais muito utilizado. Isto se deve à dois
fatores: primeiramente, seu preço no Brasil era aproximadamente R$
1.000,00. Em segundo lugar, a maioria dos usuários prefere programas
mais fáceis de “pilotar” e que forneçam resultados instantâneos.
Na área da música, este é o único programa capaz de provocar as
reações mais estranhas, que vão da adoração à repulsa. Tive um
aluno, que no início suava e tremia, só de ouvir o nome. É verdade:
um ser humano pode viver uma vida, sem conhecer tudo que o programa
oferece.
Os
três manuais (completíssimos), abordam os itens por diversas formas
de busca, mas assustam àqueles que estão à procura de respostas
imediatas. Com o tempo, nota-se que os programa executa determinadas
funções de diversas formas, cabendo ao usuário escolher a que mais
lhe convém. Por exemplo, pode-se entrar com uma indicação de repetição
complexa como "Ao S sem repetição, O várias vezes e Fade
Out" de diferentes maneiras, inclusive por intermédio de uma
simples tecla, se isto já estiver programado no Editor Gráfico. Este
é o primeiro programa que possui um editor gráfico incorporado, para
criação de novos símbolos.
É
possível produzir partituras simples rapidamente, mas se a meta for a
de fazer boas partituras avulsas ou livros de música, é necessário
conhecer muito bem os princípios básicos da notação musical e
estudar muito os manuais. Caso contrário, o resultado será idêntico
ao produzido por programas comuns, precários e limitados.
A
esperada versão para Windows 95 ainda não está disponível, mas de
qualquer forma a atual 3.7, é de fácil instalação e totalmente
compatível, utilizando, inclusive, os recursos de impressão do próprio
Windows, ao contrário das versões mais antigas. Mesmo partituras
"pesadas" são mostradas e processadas rapidamente em
computadores a partir de 60 MHz. Fãs do Finale continuam aguardando a
versão de 32 bits, instalável via Add Programs, com funções de
enviar partituras pela Internet de dentro do programa e soluções
definitivas para impressão em post
script com fontes True Type incluídas.
Entrada
de dados
Esta
é a principal parte de um programa de notação: como entrar com as
notas.
Speed
Entry (via teclado musical) - É a forma mais rápida e segura (pouca
margem de erro) para quem toca teclado. Quando se deseja entrar com as
notas sem necessidade de muitas revisões, esta é a forma mais
recomendada. No geral, em seis anos de uso, mostrou ser a mais
eficiente para executar trabalhos complexos, repleto de acordes e com
muitas páginas. Funciona da seguinte maneira: toca-se no teclado
musical o acorde ou nota que se quer entrar, e simultaneamente no
teclado do computador, a tecla correspondente ao valor da figura rítmica
(teclas de 1 a 7). É interessante observar que, com o tempo passa-se
a utilizar os dois teclados de forma rítmica, sendo que o teclado do
computador é percutido como um eco do teclado musical.
Speed
Entry (via teclado do computador) - Para quem não tem teclado musical
ou placa MIDI instalada. Cada nota corresponde à uma tecla do
computador, e as figuras rítmicas são assinaladas através dos números
1 a 7. É possível ainda, posicionar o cursor com as setas ou com o mouse, no local da nota que se quer entrar, e teclar o número da
figura. A dificuldade deste sistema é entrar com acordes complexos; e
o processo é lento, se comparado aos demais.
Simple
entry (via mouse) - É um
dos métodos preferidos pelos copistas profissionais que passaram do
convencional (decalques) para o informatizado, e não tocam teclado.
Clica-se em uma figura rítmica do menu e insere-se diretamente na
pauta. Alguns usuários desenvolveram profundamente esta técnica que
proporciona margem de erro muito baixa, já que cada símbolo é
checado enquanto é aplicado.
HyperScribe
(via sequenciamento) - Indo direto ao assunto: nenhum programa de
partituras é um excelente programa de sequenciamento (e vice-versa)!
Mesmo assim, é possível gravar uma execução no Finale enquanto o
mesmo a converte em partitura. Este processo não é tão automatizado
quanto se diz, e nenhum programa gera partituras precisas
automaticamente. Não existe milagre nesta área. É sempre necessário
editar o que o programa entendeu da execução. Por outro lado, se a música
for executada roboticamente, o resultado é bem próximo da perfeição.
Não espere que uma execução imprecisa gere uma boa partitura
rapidamente. Quanto mais imprecisões, mais edições serão necessárias.
O
HyperScribe é o sequenciador do Finale. Este, que já foi um dos
sequenciadores mais complicados, atualmente é muito simples.
Primeiramente deve-se configurar o tipo de metrônomo que guiará o
sequenciamento. No meu caso, utilizo o som do contra-tempo, cow-bell
ou rim-shot, com o
primeiro tempo forte e os demais ligeiramente fracos. É possível,
inclusive, adotar uma configuração onde o primeiro tempo produza um
som de instrumento diferente dos demais. Pode-se regular a contagem
para iniciar antes da gravação, o que facilita a concentração para
executar a música. Em seguida, é só abrir a janela do Play Back
Control e clicar no botão Record. Para iniciar a contagem, aperta-se
o pedal de sustain ou
qualquer controlador que tiver sido configurado para esta finalidade.
Quando o mostrador avança para o compasso seguinte, automaticamente são
mostradas as notas recém gravadas.
Para
ouvir a gravação, clica-se no Play. Se desejar ouvir monitorando
visualmente as notas, liga-se a função Scrolling. Aqui, aparece uma
pequena falha do programa: não é possível ouvir o metrônomo no
modo Scrolling. Para compensar, pode-se acompanhar visualmente um
cursor que é posicionado acima de cada nota gravada enquanto a
partitura é mostrada.
Com
a versão 3.7 senti-me motivado a investir nesta forma de gerar
partitura. Na verdade, em relação à sequenciamento, o Finale
incorporou algumas facilidades do Encore, proporcionando um retorno
mais imediato. Até então, eu só lançava mão deste recurso quando
precisava fazer o arranjo e a notação simultaneamente.
Via
MIDIFiles - O Finale importa MIDIFiles sequenciados em qualquer
programa, mas, novamente, não faz milagres. Um arquivo gravado sem
precisão se tornará uma partitura desastrosa! Utilizo a técnica de
tocar para um sequenciador, limpar esbarrões, separar vozes, editar
durações das figuras e depois carrego este arquivo no Finale, o que
proporciona ótimos resultados.
Entrada
de letra
Aplicar
letra de música embaixo da melodia é muito simples. Pode-se escrever
diretamente em baixo de cada nota ou entrar a letra inteira (com hífens,
espaços e ligaduras de sílabas) diretamente no quadro de entrada de
texto, e posteriormente, clicar nas nota que receberão as sílabas em
questão. É possível adicionar quantas linhas de letras e estilos de
fonte forem necessários. Para evitar esbarrões entre as sílabas,
tecla-se o número 4 e simultaneamente clica-se duas vezes no botão
esquerdo do mouse. Isto faz com que o espaçamento automático evite colisões
entre diversos elementos da partitura (quando o respectivo Allotment
estiver carregado).
Nas
letras cantadas em português é muito comum encontrar duas sílabas
agregadas em uma única nota. São casos como: "de um", que
é geralmente pronunciado "dum". Tenho reparado que muitas
pessoas utilizam erradamente a tecla shift hífen (de_um) nestes
casos. O correto é entrar com uma pequena ligadura entre as vogais. E
onde está esta ligadura no teclado do computador? Pois é, não há!
A Coda também não me ofereceu solução para o problema. Tive que
aprender a usar um programa de fabricar fonte, com o qual modifiquei o
caracter " _ " para uma pequena ligadura. Outro dia,
surfando por aí, descobri que um usuário italiano fez o mesmo
processo e disponibilizou na rede, só que, se não me engano, a fonte
dele deveria ser comprada. Como já criei esta fonte True Type, o qual
dei o nome de TimesLigadura.TTF, se houver interessados, poderei
disponibilizá-la em minha home
page, sem custo.
Exportação
e importação de gráficos
Além
da exportação de partituras em post script, a versão 3.7 possibilita a criação e exportação de
arquivos TIFF (Windows) e PICT (Macintosh). Pequenos trechos ou páginas
inteiras podem ser aplicadas e visualizadas em processadores de texto
que suportem estes formatos. Se você estiver encontrando problemas
com a exportação de EPS (Encapsulated Post Script), poderá passar a
utilizar o TIFF (até 1200 pontos de resolução). EPS é uma área crítica
do programa pois depende de diversos fatores da linguagem post script
(Adobe) e de drivers de impressoras post
script fornecidos pelos fabricantes de software
ou pela Microsoft.
Desde
a versão 3.5, tenho travado uma verdadeira batalha com a Coda para
que a impressão em post script seja transparente como era até a versão
3.0. Nem sempre é possível imprimir em post script com as fontes True Type incluídas no documento. Sem
fontes True Type incluídas, não há problema. Depois de alguns
meses, a fábrica admitiu o problema, ao invés de culpar os drivers
fornecidos pela Microsoft. A saída que me sugeriram foi de
incluir somente fontes Type1 nos documentos a serem impressos em post script, mas como o programa que uso para editoração de livros
(Aldus Page Maker 6.0) não se entende com o Adope Type Manager
(programa que gerencia as fontes Type1), a única saída que encontrei
foi criar os EPS no Finale, exportar para o PM6 sem fontes incluídas
e imprimir com as fontes True Type residentes na impressora.
De
qualquer forma,
a versão 3.7 abre a fantástica possibilidade de exportar os
mesmos documentos ou techos em TIFF, que ocupa mais espaço no hard
disk, mas imprime com acurada perfeição a partir de 600 pontos
de resolução. Também é possível importar gráficos em EPS, TIFF
ou WMF e inserir nas partituras. Pode-se, por exemplo, aplicar uma
logo marca ou mesmo trechos musicais explicativos dentro das
partituras.
Entrada
de texto
Antes
da versão 3.7, os textos utilizavam diferentes ferramentas para
finalidades diversas. Agora, títulos, copyright ou blocos de informações são criados e editados por uma
única ferramenta - Text Tool. Para mudar a fonte ou características
do texto, basta marcar o que se deseja modificar e efetuar a operação
instantaneamente. Não há mais o limite de 48 caracteres para entrada
de textos e um texto pode ter quantas fontes misturadas se desejar.
Entrada
de cifras
Agora
é possível entrar as cifras escrevendo diretamente na partitura, e o
programa acoplará automaticamente, o símbolo equivalente (após ter
sido programado). Criar cifras bem alinhadas, é uma tarefa
complicada, pois nem sempre o resultado mostrado no monitor é o mesmo
que o impresso. Na notação das cifras do sistema brasileiro, cada
dissonância é descrita, o que torna ainda mais difícil de alinhar.
Para que os novos usuários do Finale não tenham o cansativo trabalho
de programar um bom grupo de cifras, disponibilizei na minha
home page (seção Cifras), o que construí e venho utilizando há
muitos anos. Estas cifras foram tiradas do Dicionário de Acordes Para
Piano e Teclados, que abrange todas as possibilidades.
O
Finale possibilita diversas outras formas de entrar com cifras. Um dos
métodos que utilizo muito é o de tocar um acorde no teclado,
deixando que o programa lance automaticamente a cifra correspondente
(uma das exclusividades do Finale!).
Extração
de partituras
Com
o Finale, é possível extrair as partes individuais de uma grade de
orquestra, o que facilita a produção de "partes cavadas".
Todos os símbolos, repetições e tempos de espera são refletidos,
bastando apenas edições finais na diagramação. O macête para não
ter que refazer a diagramação de cada parte cavada é criar um padrão
para onde serão enviadas as partes extraídas.
É
necessário fazer revisão minuciosa na parte de orquestra, antes de
gerar as partes cavadas, para evitar consertos em cada uma
posteriormente.
Display
de
funções com cores
A
partir da versão 3.5, é possível atribuir diferentes cores para
diversos elementos da partitura, o que facilita muito a localização
dos símbolos. É possível construir um código de cores para parâmetros
como: segunda voz, sinais de repetição, sinais de dinâmica, textos,
quiálteras, sinais de expressão, numeração de compasso, etc.
Na
versão 3.7, as cores atribuídas aos elementos também são
refletidas na respectiva ferramenta do Main Tool Palette (menu
principal do Finale). Quem fizer upgrade
de versões anteriores para a 3.7 notará que o Main Tool Palette
agora pode ter duas ferramentas na horizontal, possibilitando a
configuração de uma coluna que ocupa menos espaço no monitor, e
consequentemente não avança na partitura, quando em Page View.
Notação
de percussão
A
percussão é tratada particularmente e possui compatibilidade total
com as especificações de General MIDI (GM). O resultado é que as
partituras de bateria podem ser instantaneamente executadas via MIDI
com todas as peças soando perfeitamente em uma placa ou módulo GM.
Pode-se inclusive programar um mapa de notas e sons que atinja as
notas de uma bateria não padronizada. Antes deste aperfeiçoamento,
estranhas e antigas confusões ocorriam, como por exemplo: a nota fá
da escrita do bumbo soava fá com som de piano (se a pauta estivesse
endereçada para este som) ao invés de bumbo que em General MIDI é o
canal 10, dó 3, nota 36.
Antes
da versão 3.7, para se escrever o "x" do contra-tempo e do
prato, era necessário modificar o Note Shape no Staff Attributes.
Agora, cada nota da percussão ou bateria pode ter o símbolo e local
na pauta que se desejar. Também, é possível configurar o número de
linhas da pauta de bateria e a clave, sem limites.
MIDI
Clipboard
Esta
função permite copiar um trecho ou uma música inteira para o
clipboard (buffer) e depois
inserir em qualquer programa de música que suporte MIDI clipboard. É
impressionante a agilidade que esta função proporciona no dia a dia.
Para os que trabalham, por exemplo, com o Finale e o Cakewalk
conjugados, não é mais necessário salvar um arquivo como MIDIFile,
e exportar para o outro programa. Tudo é feito através do MIDI
Clipboard.
Régua
e margens
Com
estas implementações é possível localizar com exatidão em que
ponto da página está um determinado elemento. As medidas podem ser
reguladas para centímetros, polegadas ou EVPUs (medida básica do
Finale). Nas versões mais antigas, os alinhamentos eram feitos
"no olho", e uma maior precisão só era possível por
intermédio de cálculos numéricos ou espalhando-se diversas entradas
falsas de texto como referência. Estas novidades facilitaram muito o
alinhamento final do trabalho apenas dragando com o mouse.
Aguardo
ainda, a implementação de guias posicionáveis como as do Page
Maker, para que a diagramação seja mais agilizada.
Espaçamento
da notação
Um
problema crítico nos programas de notação é o espaçamento entre
notas e símbolos musicais. Fazer partitura não é só dar entrada de
notas, colocar o título e autores, como muitos pensam. O que mais
vejo, inclusive em livros de música estrangeiros, são partituras com
aquele jeitão de produção amadora: cifras esbarrando em notas,
letras desalinhadas, símbolos com tamanhos absurdos e principalmente
espaçamentos errados entre os eventos. Uma semínima não demanda o
mesmo espaço na horizontal que um grupo de quatro semicolcheias.
Neste ponto, a informática mal utilizada, anda produzindo trabalhos
piores dos que os feitos à mão.
Existem
verdadeiros tratados milenares a respeito do espaçamento correto para
que a leitura seja agradável, e não um sacrifício. Os músicos de
estúdio estão se recusando a gravar quando encontram na estante
aquela coisa incompreensível. É aí que entra em cena o velho
copista, que com papel e caneta na mão, cheio de razão afirma:
"Eu não disse que esse negócio de partitura por computador não
dá certo?"
O
Finale proporciona diversos espaçamentos automáticos muito precisos,
baseados nas convenções adotados pelos copistas e editores mais
respeitados do mundo. Outros programas também oferecem opções de
espaçamento, mas o resultado não é tão profissional quanto o do
Finale, que calcula os espaços ideais, evitando colisões entre
notas, cifras, letra de música, e sinais de expressão e de dinâmica.
A única observação a fazer sobre esta função, é em relação às
notas ligadas (ties), que
poderiam ser um pouco mais folgadas, evitando a necessidade de se
editar uma a uma manualmente quando se tem muitos compassos em uma
pauta.
A
partir de 1991, com a proliferação da tecnologia das impressoras
laser, aumento de resolução dos monitores e melhoramentos nas fontes
musicais, diversos fabricantes visualizaram o potencial do mercado de
programas de notação, e iniciaram uma verdadeira batalha para ver
quem ficaria com a maior fatia do mercado. A Coda - produtora do
Finale - não se abalou muito com questões mercadológicas e partiu
para concretizar definitivamente sua proposta: produzir o melhor
programa do mercado, respeitando as regras básicas de espaçamento.
Nesta
época, eu estava fazendo tournée de shows e ministrando workshops
na Dinamarca, e por coincidência, estava acontecendo em
Copenhague uma das maiores feiras de informática do mundo, a qual
frequentei por quatro dias consecutivos e onde assisti demonstrações
de todos os programas de notação. Esta verdadeira maratona me
permitiu comparar programas e impressoras enquanto que simultaneamente
enriqueceu meus
workshops, onde demonstrava e analisava programas de
sequenciamento e notação, inclusive o dinamarquês Musicator.
A
partir destas experiências, optei pelo Finale e participei de grupos
de estudos durante dois meses, voltando para o Brasil com a certeza de
ter escolhido o programa ideal para publicação dos meus projetos de
livros de música. Um ponto decisivo foi o espaçamento automático
que poupa horas de trabalho.
Compatibilidade
O
Finale permite exportar arquivos em diversos formatos, facilitando o
trabalho em conjunto com usuários de diferentes plataformas. Se um
projeto for iniciado em Macintosh, poderá ser finalizado em PC e
vice-versa. Apesar desta proposta estar disponível desde a primeira
versão do Finale, a transferência entre computadores não era tão
simples, devido à incompatibilidade entre os disk
drivers e sistemas operacionais de diferentes fabricantes.
Realizei muitos testes de compatibilidade ao longo destes dez últimos
anos, e sempre tive problemas em trocar arquivos entre PC e Mac.
Encontrei a solução transmitindo meus trabalhos
via modem.
A
partir de 1993, a Apple passou a investir em soluções definitivas
para sair do isolamento, aprimorando a tecnologia de seus disk
drivers (hyperdisk), e até mesmo possibilitando compatibilidade com o mundo
PC, por intermédio dos Power Macs e placas emuladoras de PC para
Macintosh. Atualmente, rodo rapidamente arquivos produzidos em Macs,
se forem
salvos com emulação de PC. É muito interessante: o PC copiou
o ambiente de janelas do Mac, e o Mac agora corre para se aproximar do
PC. A guerra continua, e os beneficiados somos nós, usuários
cansados de incompatibilidades.
De
qualquer forma, agora os músicos de todo o mundo trocam arquivos pela
Internet, via e-mail, pagando ligação local, e não é mais necessário
marcar hora para conectar, pois tudo fica guardado no servidor.
Impressão
Finalmente,
agora é possível escolher a impressora de dentro do programa. Muitos
trabalhos são projetados para serem impressos em fotolito em um
bureau que possua uma impressora post script, mas todos os testes têm
que ser realizados em impressora caseira, antes de se enviar o arquivo
final. Até a versão 3.5, era necessário ir ao Control Panel,
Printers, trocar a impressora default,
voltar para o Finale e imprimir. Muito vai e vem. O Finale foi um dos
últimos programas a utilizar o recurso de escolha de impressora
presente no Windows há pelo menos 18 meses.
Cada
marca e modelo de impressora possui uma característica própria, no
que toca à emissão de tinta, qualidade de impressão, resolução,
etc. Uma partitura nunca terá as mesmas características quando
impressa em diferentes impressoras. Um problema muito comum é a
diferença da espessura de linhas, que em certos modelos são ideais
mas em outros ficam muito finas ou muito grossas. Em raras situações
isto pode ser solucionado a contento simplesmente utilizando recursos
da impressora, ou seja, imprimindo com mais ou menos tinta. Mas no
Finale isto não é problema: quase tudo que se vê na tela pode ser
configurado para uma impressão ideal, em sistemas caseiros ou em bureau
(em post script direto para fotolito). Este é um dos pontos fortes do
programa. Pode-se modificar individualmente a espessura de vários
elementos como: pautas, hastes, ligaduras, etc. Este é um programa
onde tudo flutua, tudo é editável, e o que não existe, se constrói!
O
Finale não fica preso à utilização de apenas uma fonte musical. Se
desejar incorporar novas fontes em suas partituras, recorra à
Internet, onde várias True Types e Type1 estão disponíveis. Só o
Finale possui regulagens especiais para lidar com novas fontes, de
forma que as cabeças de notas fiquem sempre alinhadas com as hastes
de mínima, semínima, colcheia, etc. A própria fonte Petrucci (que já
vem no programa), foi redesenhada para uma impressão e visualização
mais precisas. Agora, a haste da semicolcheia tem a mesma altura que a
da colcheia, dispensando assim muita edição.
A
solucionar
As
edições feitas com a ferramenta de texto infelizmente não estão
ainda associadas ao Undo.
O
Update Layout agora pode ser automatizado, evitando a necessidade de
teclar Control + U para reajustar o conteúdo da região selecionada.
Ótimo update, mas se estiver ligado, quando em Page Layout, não é
possível ver os Staff Systems.
Itens
como os números dos Layers e Bracket Options ficam completamente
escuros quando selecionados, impossibilitando a visão do conteúdo, a
não ser que se incremente o contraste do monitor para o máximo.
Provavelmente isto só ocorre em monitores configurados para milhões
de cores, mas mesmo assim, pode ser classificado como "bug".
Esporadicamente,
os textos são lançados para diferentes pontos da tela, quando em
Page View. Isto só ocorre a nível de monitor e pode ser solucionado
clicando-se no scroll bar para
cima e para baixo. A impressão não é afetada por esta imperfeição.
Ao
dar entrada de cifras em Page View, no modo Type Into Score, o cursor
não fica alinhado em cima da nota clicada (pequeno bug). Ao dar um
Redraw, a cifra é lançada no local correto.
Conclusão
Em
termos de recursos, possibilidade de manipulação de eventos e precisão
na diagramação, o Finale sempre esteve muito à frente de seus
concorrentes. A versão 3.7 foi bem simplificada e não provoca mais
aquela sensação de medo.
O
usuário de Finale em qualquer plataforma não fica isolado, pois a
Coda tem presença significativa na Internet. Dúvidas e discussões
com o suporte ou usuários de Finale são acessadas via Finale
Support, Finale Forum ou news
groups de MIDI. Os pequenos upgrades
de manutenção podem ser pegos por modem (sem custo) e os mais
significativos podem ser encomendados à Quanta.
Recomendo,
portanto, o Finale 3.7 para todos que desejam produzir partituras em
grande estilo!
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